Incêndio destrói obras de arte em galpão com peças de principais artistas do país
Incêndio em galpão em Taboão da Serra que tinha obras de arte de galeria paulistana -NELLY ROSSANY Gazeta de S.Paulo
Centro logístico atendia grandes galerias do país, entre elas a Nara Roesler, que representa Antonio Dias e Vik Muniz
São Paulo
Um incêndio destruiu obras de arte num galpão em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, com peças dos principais artistas do país nesta quinta-feira (25).
Obras das galerias Nara Roesler, um dos espaços de arte contemporânea mais importantes do país, e com sedes em São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York, e Simões de Assis estavam no local.
Artistas representados pela Nara Roesler afirmam que foram informados do ocorrido naquele mesmo dia à noite, mas que não sabem da extensão do incêndio ou se suas obras foram atingidas.
De acordo com pessoas próximas à galeria, havia milhares de obras de artistas de peso do mercado global armazenadas ali, entre eles Abraham Palatnik, Antônio Dias, Laura Vinci e Vik Muniz. Eles também dizem que cerca de 1.300 obras do espaço estavam no galpão, o que representa cerca de 80% do acervo da galeria.A assessoria da Nara Roesler diz que ainda não sabe da extensão dos danos e que estão levantando quais obras estavam no espaço e que peças foram danificadas.
Já a Simões de Assis tinha ali 13 esculturas históricas do artista Emanoel Araújo que estavam em trânsito para uma mostra dele nos Estados Unidos.
'Caboclo Sultão', uma das 13 esculturas do artista Emanoel Araújo que estava em galpão atingido por incêndio -
"Foi realmente uma fatalidade que aconteceu e várias galerias estavam deixando obras estocadas com eles", diz Guilherme Simões de Assis, sócio da galeria Simões de Assis. "São obras históricas de um artista que já tem 80 anos de idade e está tendo um reconhecimento no exterior. É um pedaço da arte brasileira que vai embora", afirma o sócio, sobre as esculturas de Araújo.
O próprio artista disse que foi um "choque enorme" a notícia de que suas obras estavam no incêndio. "Quando você perde uma obra, é muito difícil porque não dá para reconstruir. É uma coisa feita no passado, está perdida mesmo", diz Araújo. "É um abalo moral à obra e ao artista", afirma. "Não tem justificativa, é uma falta de atenção, de responsabilidade. Pode falar o que quiser, mas nada que se disser resolve."
Galeristas afirmam que o galpão estava num processo de migração de obras para um novo espaço. Em nota, o grupo Alke, dono do galpão, afirma que ainda não há estimativa de valores de obras atingidas no incêndio.
A empresa, especializada em logística, também diz que nunca existiu caso semelhante no grupo e que "estava em dia com o auto de vistoria do Corpo de Bombeiros, licença que comprova legalmente que o estabelecimento está seguro".
Outras galerias paulistanas importantes, como Luciana Brito, Vermelho e Zipper, relataram trabalhar com frequência com os serviços da Alke –a empresa faz transportes internacionais, por exemplo. Essas disseram que não tinham obras no galpão naquele momento, no entanto.
"Hoje estamos de luto pela memória da arte e por nossos colegas, artistas, galeristas, colecionadores e pelos amigos da Alke. Nosso carinho mais sincero a todos", escreveu a assessoria da galeria Vermelho nas redes sociais.
Segundo o Corpo de Bombeiros, o incêndio aconteceu às 17h30, na rua Áurea Tavares, em Taboão da Serra, e o fogo foi controlado com a ação de dez viaturas.
O boletim de ocorrência registra que um empresário do setor de logística, de 33 anos, afirmou que prestadores de serviços, ao abrirem o portão do depósito, viram que o fogo começou na parte superior do armazém.
Ao falar sobre o incêndio, Emanoel Araújo recorda que, quando morava em Nova York e foi apresentado a uma secretária de Cultura da cidade, ela disse que ele vinha "do país que taca fogo nos museus". O artista recorda, por exemplo, a tragédia no prédio do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que pegou fogo em julho de 1978.
Em outubro de 2008, um incêndio também acabou com grande parte do acervo do artista plástico Hélio Oiticica e, em agosto de 2012, obras foram destruídas na cobertura do marchand e colecionador Jean Boghici, ambos no Rio de Janeiro.
"O incêdio do MAM foi uma outra grande tragédia. Essas coisas são de um prejuízo enorme, sobretudo", afirma Araújo.
Colaborou Clara Balbi