Segurança foi resolvida, diz curador
FOLHA DE S. PAULO
31 de janeiro de 2008
FOLHA Ilustrada
Fonte: NOVAES, T. Segurança foi resolvida, diz curador. Jornal Folha de S. Paulo, Cad. Ilustrada, 31/01/2008. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3101200810.htm. Acesso em 20/02/2008.
Segurança foi resolvida, diz curador
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Teixeira Coelho, curador do Masp, afirma que falta de recursos é o grande problema e que "jantar na Fiesp" não resolve
Para ele, é preciso discutir o "sistema'; instituição de Israel, que fará mostra no Masp, pediu explicações sobre segurança do museu
"Um jantar na Fiesp não resolve o problema do Masp", afirma Teixeira Coelho, curador-chefe do Masp, em resposta à crítica feita por Paulo Hekenhoff na entrevista publicada na Ilustrada, anteontem. Coelho, que também é professor de política cultural da USP, afirma que é necessário que o Estado, a sociedade e a iniciativa privada discutam uma forma de manter o museu.
O curador dirigiu o MAC (Museu de Arte Contemporânea, ligado à USP) e foi responsável pela reforma do museu que, entre outras melhorias, deu segurança ao local. Segundo ele, as falhas de segurança do Masp já foram resolvidas. "O grande problema do museu é a obtenção de recursos de forma constante para que ele se mantenha", afirma o curador em entrevista à Folha.
FOLHA - O sr. tem relações com instituições e intelectuais de fora do Brasil. Como o furto repercutiu nesse meio?
TEIXEIRA COELHO - Fui [recentemente] para a Alemanha fazer contatos. Ou as pessoas são muito educadas, ou se comportaram de uma maneira normal. O caso foi mencionado, naquele momento as obras já tinham sido descobertas, mas isso foi discutido de passagem. Não foi uma reação impactante.
FOLHA - E qual foi a reação dos museus que emprestarão obras para o Masp? Eles contataram o museu?
COELHO - O museu de Israel, sim. Eles sempre foram muito preocupados com a questão da segurança. O museu vai fazer uma exposição aqui chamada "Tesouros da Terra Santa" e, desde o início, eles fizeram uma série de exigências de segurança, e nós fomos atendendo a todas. Quando houve manifestações da promotora [Mariza Tucunduva, que solicitou o fechamento do museu], eles pediram novas informações, que o museu está dando e vai continuar a dar. Mas neste momento não temos nenhum cancelamento de exposição.
FOLHA - Em algum momento pensou em abandonar o cargo?
COELHO - Não pensei em deixar o cargo. Eu vim para cá com a idéia de que poderia contribuir para um reposicionamento do museu. Continuo achando que posso fazer essa tarefa. Não me refiro a essas questões de segurança. Os pontos falhos de vigilância do museu foram corrigidos. O grande problema do museu, no meu ponto de vista, é a obtenção de recursos de forma constante para que ele se mantenha. É isso que estou tentando construir também.
No final do ano passado, o Masp conseguiu depois de dois anos, e não por responsabilidade dele, aprovação do projeto anual de manutenção na Lei Rouanet. O projeto tinha sido apresentado em 2005, portanto nove meses antes de eu assumir, e ficou perdido no MinC.
Assim que foi aprovado, patrocinadores se apresentaram e já deram dinheiro. Apoio da iniciativa privada está aparecendo e há a possibilidade de financiamento de exposições. Por outro lado, não vim aqui para ficar dez anos, vim para fazer trabalho de organização, de conversa e de redefinição do museu, trazer um pouco da experiência que tive com o MAC.
FOLHA - Como era a situação do MAC quando o sr. assumiu?
COELHO - É um pouco desagradável comentar essas coisas. Mas o MAC estava desde a criação sem ar-condicionado, sem sistema de segurança contra incêndio ou contra furto, fechado por uma porta de vidro com uma corrente passada ao redor do trinco. No verão, você não podia entrar dentro do MAC.
Fizemos a reforma, o museu ficou com ar-condicionado, sistema de proteção às obras e contra incêndio e uma nova reserva técnica. Isso foi possível de se fazer em quatro anos, em um ano não é. O recurso para fazer a reforma do MAC foi dado a mim, e eu fui o responsável de prestar contas à Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo] de todos os tostões gastos.
Agora, está surgindo essa idéia de o Masp ser estatizado e eu não creio de maneira nenhuma que o Estado seja o melhor patrão em termos de arte e cultura. Por que eu digo isso? Porque a reforma feita no MAC não foi paga pela universidade. Claro que os recursos da Fapesp são públicos, mas o Estado nunca conseguiu colocar ar-condicionado lá. O Estado, a iniciativa privada e a sociedade civil têm que conversar, como acontece nos EUA, para ver como é possível manter o museu.
FOLHA - Em entrevista à Ilustrada, publicada na edição de anteontem, Paulo Herkenhoff afirma que a direção do museu é "impermeável". Como trazer a sociedade civil e o Estado para a instituição?
COELHO - É uma questão complicada. Primeiro, é um museu privado. Segundo, boa parte da coleção é declarada de interesse público. O museu não é o possuidor dessas obras, é o gerenciador em nome de uma idéia cultural nacional. Houve neste ano algumas aproximações, tentativas de conversas, mas elas não foram em frente. Não faço parte da direção do museu, minha função é cultural. O que posso fazer em relação a isso? Conversar com a administração para indicar quais são as vias possíveis. Agora, os termos de um acordo concreto é algo que tem que ser discutido entre as partes interessadas. Não sei se está havendo diálogo suficiente. Quando se tem mais de um para se sentar à mesa, é preciso que cada um faça sua proposta, não sei se essas propostas estão saindo de todos os interessados.
FOLHA - Herkenhoff disse ainda que o problema financeiro do museu poderia ser resolvido com "um jantar na Fiesp". Em sua opinião, por que o museu, que tem entre seus sócios grandes empresas e pessoas abastadas, não consegue fundos?
COELHO - Por que você não faz essa pergunta para essas pessoas? Faça essa pergunta para as pessoas do conselho do Masp. Quando aceitei vir para cá, me trouxeram ao museu, me contaram o que havia sido feito, uma reforma que custou R$ 20 milhões, dos quais a prefeitura entrou com R$ 1 milhão e o museu levantou, junto à iniciativa privada, R$ 19 milhões.
Para mim, foi um sinal da capacidade mobilizadora dessa administração para buscar recursos, o que no Brasil é muito difícil, cada dia mais difícil. Há um lado perverso das leis de incentivo fiscal, das quais sou um convicto defensor. Os grandes bancos e as grandes empresas começaram a canalizar recursos para suas próprias instituições culturais. Os recursos para museus diminuíram enormemente. Além disso, não existe no Brasil nem a sombra da consciência que há nos EUA de que cada um de nós deve apoiar. Não é esta direção que é incapaz ou que não quer levantar dinheiro, não é só também a iniciativa privada e as pessoas mais abastadas que não querem contribuir. É um conjunto de fatores. Financiamento de museu é como acidente de avião, uma somatória de fatos.
Não é porque soltou um parafuso que o avião caiu; a pista estava molhada, congestionada...
E você não resolve o problema do Masp em uma noite na Fiesp. Quando estava no MAC, eu tentei, mas não sai dinheiro. Um jantar na Fiesp não resolveu o problema do MAC.
Fonte: NOVAES, T. Segurança foi resolvida, diz curador. Jornal Folha de S. Paulo, Cad. Ilustrada, 31/01/2008. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3101200810.htm. Acesso em 20/02/2008.