Presidente do Masp é "desconhecido" no meio da arte
A maioria dos curadores e artistas ouvidos pela Folha ontem dizia desconhecer o novo presidente do Masp (Museu de Arte de São Paulo), João da Cruz Vicente de Azevedo.
Muitos criticam o processo de escolha dos dirigentes e os métodos de gestão de instituições como o Masp e a Fundação Bienal, que entraram em crise e perderam a primazia em seu meio em anos recentes.
Azevedo, 83, que é advogado e colecionador, foi eleito para um mandato de dois anos, após encabeçar chapa única na disputa pela sucessão do arquiteto Julio Neves, 76, que presidiu o Masp por 14 anos. O novo dirigente foi secretário-geral durante a polêmica gestão do arquiteto (leia quadro ao lado).
O artista plástico Nuno Ramos, crítico da administração de Neves, diz desconhecer Azevedo. "Mas não posso julgá-lo. O fato de ter sido secretário de Neves indica continuidade."
Para o artista plástico, os problemas do Masp fazem parte de uma crise maior de instituições de arte e museus no país, que se agravou, paradoxalmente, ao mesmo tempo em que se expandia o mercado de arte no Brasil e sua produção ganhava importância maior no circuito internacional.
"O que noto é que desde que comecei, nos anos 80, as instituições caíram muito, e o mercado de arte melhorou. O caso do Masp talvez seja onde esse processo chegou mais longe, que se nota na irrelevância de suas exposições recentes", afirma Ramos.
"O problema é que essas instituições são absolutamente necessárias, são o que é mais necessário. O mercado serve para levantar a poeira, mas o assentamento dessa poeira depende de mil mediações institucionais feitas sobretudo pelos museus", ele diz.
A diretora da galeria Fortes Vilaça, Márcia Fortes, também critica a gestão de Julio Neves e se diz "triste" com o destino das grandes instituições de arte em São Paulo. "Houve escolha?", pergunta, questionando a eleição. "Parece mais uma farsa. Continuamos nas mãos de pessoas que não têm interesse genuíno em arte."
Para o crítico de arte e curador Cauê Alves, "pior do que o Julio Neves e essa eleição é o sistema que permite que essas coisas aconteçam". "É um sistema de escolha que não permite que haja transparência e participação do sistema da arte. Eles têm compromissos políticos e pouco compromisso com o que seria a função principal dos museus."
Segundo Alves, "uma alternativa possível seria alguma intervenção do Estado nessas instituições; é preciso pensar alguma forma de controle social e público para elas". O Masp, que abriga um dos principais acervos do país, é uma instituição de caráter privado.
"A situação do Masp, da Bienal reflete o modo como as elites tratam o nosso patrimônio cultural", ele diz.
Daniela Bousso, diretora do Museu da Imagem e do Som, afirma "não ter nada contra" Azevedo, "que não conheço". "Não conheço a atuação dele na área, não conheço sua visão, mas o princípio está errado."
"Eu me indago sobre a transparência do processo, como no caso da Bienal. Sou a favor de escolhas democráticas e profissionais. Minha reação é um ponto de interrogação", diz.
O curador da 28ª Bienal, Ivo Mesquita, também disse desconhecer Azevedo. "Não conheço essa pessoa."
A artista Maria Bonomi disse conhecê-lo e afirmou que a gestão de qualquer presidente do museu pode ser boa "na medida em que dê força para o curador, Teixeira Coelho, e aumente o seu raio de ação".
Editoria de Arte/Folha Imagem | ||