O Masp nas trevas
Corte de energia expõe dívidas que abalam o mais importante museu do País
Há mais de dez anos o arquiteto Júlio Neves assumiu a presidência do Museu de Arte de São Paulo, o Masp. Trouxe consigo planos tão audaciosos quanto polêmicos. Só para pontear um deles, em 2005, já atolado em dívidas, resolveu adquirir um prédio vizinho ao museu, em plena avenida Paulista. Um negócio de R$ 12 milhões para uma finalidade excêntrica: construir um mirante com 129 metros de altura. E, com atitudes como essa, jogou o mais importante museu do País em uma crise administrativa e financeira jamais vista. Na última semana, essas mazelas se tornaram públicas. Na terça-feira 23, a exposição do pintor e escultor francês Edgar Degas (1834-1917) – considerada a principal do ano – ficou literalmente às escuras. Ninguém viu suas bailarinas nem suas esculturas. A Eletropaulo, empresa que fornece energia elétrica para São Paulo, cortou a luz do museu, às sete horas da manhã, por falta de pagamento. E assim, dramaticamente, colocou às claras uma administração catastrófica. O Masp deixou de pagar uma dívida de R$ 3 milhões, numa inadimplência que já dura sete anos. As negociações ocorreram entre agosto de 2005 e 25 de abril de 2006. "Neste período foram tentadas diversas possibilidades de acerto, como o uso de créditos tributários para pagamento de débitos. Todas sem sucesso", sentenciou um comunicado da Eletropaulo. Uma parte da dívida ilustra bem a arquitetura administrativa. Segundo a empresa, em março de 2004 foi descoberta uma ligação irregular de energia no museu, feita em fevereiro de 2002. O valor atualizado da energia desviada é de R$ 414 mil. Com o corte, parte dos serviços internos foi mantida com um gerador a óleo diesel. A precariedade em que o Masp se encontra é dolorosa. O projeto, criado pela arquiteta Lina Bo Bardi, é uma referência mundial, com seu vão livre de 70 metros, e deveria ser intocável. Mas Neves tem insistido em "fazer pequenas modificações" que levaram o museu para o fundo do poço – e o fundo do poço é escuro. O mais importante museu da América Latina precisa com urgência de uma administração que traga luz.
R$ 3 milhões é a dívida do Masp com a Eletropaulo