Julio Neves quer erguer mirante no Masp
O ESTADO DE S. PAULO
30 de janeiro de 2005
Caderno METRÓPOLE
Júlio Neves quer erguer mirante no Masp
por Juliana Bianchi e Luciana Garbin
Acostumado a polêmicas, o arquiteto Julio Neves não deixou passar muito tempo depois de ser reeleito diretor-presidente do Museu de Arte de São Paulo, em novembro, para propor novas idéias para o Masp. No caso, a expansão do museu. Com dois projetos em mãos para avaliação, Neves pretende inaugurar em breve um anexo do museu, para onde seriam transferidos o departamento administrativo e o setor de cursos. O novo prédio deverá ser coroado com uma estrutura metálica de 70 metros que serviria de mirante na Paulista, 116 metros acima da avenida e 932 acima do nível do mar.
O mirante serviria para ajudar a financiar os custos de manutenção do museu, já que seriam cobrados ingressos para a visita. "Não sei se dará para ver o mar, mas vou pedir um estudo sobre isso", afirma Neves, que também planeja unir o anexo ao Masp por uma passagem subterrânea.
Os primeiros imóveis em vista estão ao lado da sede do museu. À sua direita, no número 1.510, esquina da Avenida Paulista com a Rua Professor Otávio Mendes, há um prédio de apartamentos totalmente desocupado. E à esquerda, no número 1.636, esquina da Rua Plínio Figueiredo, a construtora Gafisa tem uma obra inacabada num terreno de 1.750 metros quadrados.
O projeto do mirante já foi aprovado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico (Condephaat) do Estado e pela Câmara Técnica de Legislação Urbanística (CTLU) na gestão Marta Suplicy. Mas, segundo Jorge Wilheim, ex-secretário municipal de Planejamento, que presidia a CTLU, a proposta ainda precisa passar pela Secretaria Municipal da Habitação e pelos órgãos técnicos. "Se o projeto for bom, por que não fazê-lo?"
Mas Wilheim garante que a possível vista para o mar é impossível. "O espigão da Paulista continua até o Jabaquara e só isso seria razão suficiente para impedir a visão do mar."
"A idéia em si não é ruim, mas não sei se o Masp precisa disso agora. Acho estranho pensarem nesse tipo de investimento enquanto vivem reclamando de dificuldades financeiras", diz Martin Grossman, coordenador do Fórum Permanente sobre Museus de Arte e professor de ações e políticas culturais da Universidade de São Paulo (USP). "Eles deveriam se preocupar mais em ter uma política cultural séria."
Segundo a administração do Masp, a instituição tem gastos anuais que giram em torno de R$ 6 milhões. Para sobreviver, conta com a venda de ingressos para visitas ao acervo (de R$ 10), uma verba da Prefeitura para manutenção (em 2004 foram R$ 952 mil) e eventuais patrocínios.
Para o presidente da Associação Paulista Viva, Nelson Baeta Neves, o sucesso ou fracasso do mirante depende de como será executado. "Se não atrapalhar e o projeto não for feio, nada que se agregue à Paulista é ruim", afirma. "Confio, evidentemente, no bom senso do Masp, que é uma referência para a Paulista e, além de ser uma construção de importância muito grande no visual da avenida, é uma entidade comprometida com o belo."
Preocupada com o visual da região também fica a arquiteta Regina Monteiro, conselheira da Associação Defenda São Paulo e indicada pelo prefeito José Serra para uma das diretorias da Empresa Municipal de Urbanização (Emurb). "É preciso pensar no zoneamento e nas regras de tombamento dos prédios em questão. É um absurdo fazer gestões para aprovar projetos pontuais", diz Regina, questionando a rapidez com que o projeto foi aprovado.
Leia outras notícias sobre o MASP
Fonte: https://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20050130-40647-nac-40-cid-c4-not