Exposição de Degas ilustra o tempo de crise vivido pelo Masp
FOLHA DE S. PAULO
07 de junho de 2006
FOLHA Acontece - Crítica/artes plásticas
Fonte: CYPRIANO. F. Exposição de Degas ilustra o tempo de crise vivido pelo Masp. Folha de S. Paulo. Cad. Folha Acontece - Crítica/artes plásticas. 07/06/2006. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/acontece/ac0706200601.htm. Acesso em 17/06/2006.
Exposição de Degas ilustra o tempo de crise vivido pelo Masp
por FÁBIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A exposição "Degas, o Universo de um Artista", em cartaz no Museu de Arte de São Paulo, o Masp, é bastante simbólica da crise que a instituição atravessa. Sem credibilidade no setor artístico e com dificuldades em obter patrocínio, que provocou o vergonhoso corte de fornecimento de energia por três dias, há duas semanas, o Masp sobrevive graças a seu capital inicial: a junção entre o poder econômico e político de Assis Chateaubriand e o poder cultural de Pietro Maria Bardi. Juntos, eles constituíram um dos mais ricos acervos em arte do mundo, de um período bastante abrangente, entre os séculos 13 e 20, com um significativo conjunto do modernismo europeu, de fins do século 19. É da apresentação desse conjunto que o Masp consegue sobreviver, alternando exposições do próprio acervo, com pouca originalidade, e algumas outras de ocasião, quando há patrocínio e curadoria externos. Enquanto o Louvre, com um acervo muito mais complexo, tem hoje um programa de arte contemporânea que levou o brasileiro Tunga, por exemplo, a ser visto por mais de 3 milhões de pessoas, o Masp se fecha para o circuito brasileiro. Agora, com "Degas, o Universo de um Artista", novamente o Masp recorre ao seu acervo como âncora de uma exposição. "Maior evento cultural do ano" é o anúncio solene da mostra no site da instituição. Talvez o fato de o Masp conseguir apresentar uma exposição com obras que não só de seu acervo seja mesmo um fato a ser considerado superlativo, mas, na situação em que se encontra, a arrogância é descabida, especialmente num ano de Bienal de São Paulo. "Degas" é uma boa mostra graças ao acervo do museu, mas não se trata de uma retrospectiva significativa do artista. Mestre em transformar o movimento em imagem congelada -por isso as bailarinas como tema-, o impressionista Edgar Degas (1834-1917) criou uma das mais belas séries sobre os bastidores da dança, algo que antecipou o trabalho feito por fotógrafos sobre os bastidores da moda nos anos 60. Dessa série, seu ponto alto, há poucas obras: "A Aula de Balé", do Museu de Arte da Filadélfia, e "Bailarinas nos Bastidores", da Galeria Nacional de Washington, estão entre a meia dúzia de contribuições de fato significativas do exterior que, entretanto, já valem a visita. Mas uma retrospectiva decente teria um conjunto mais representativo. Por conta dessa ausência de obras de peso só de Degas, é o acervo do Masp que dá suporte à mostra. Só em pinturas há 26 do Masp, contra 22 do exterior. E, obviamente, o ponto alto da exposição é o conjunto de esculturas em bronze, recém-restauradas, de que o museu é um dos quatro, em todo o mundo, detentor da coleção completa. Exibidas em conjuntos dispersos, no entanto, as obras perdem a força de um grupo impressionante pela quantidade. Ainda em pintura, há menos Degas do que outros artistas -são 19 contra 28-, fazendo com que o acervo do Masp seja usado para contextualizar o artista. A questão é que aí fica clara a necessidade de preencher espaços, adensar a exposição. Porque fez retratos, Degas ganha uma das maiores salas da mostra com outros retratistas, em alguns casos com franca desvantagem na comparação, pois seus retratos expostos não são os mais importantes. Por que, então, submeter o artista a tal vexame? Há outros bons momentos da mostra, como a seção dedicada às obras com cavalos como tema, aí sim, algo particular na produção de Degas, e ainda toda a série de trabalhos de Picasso tendo Degas como tema. Mas não é o evento cultural do ano, pois é preciso que o Masp deixe de fazer exposições "faz-de-conta". Para tanto, será preciso que ele também deixe de ser um museu "faz-de-conta".
DEGAS, O UNIVERSO DE UM ARTISTA
Quando: ter. a dom., das 11h às 18h (bilheteria fecha às 17h)
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 3251-5644)
Quanto: R$ 7 a R$ 15
Fonte: CYPRIANO. F. Exposição de Degas ilustra o tempo de crise vivido pelo Masp. Folha de S. Paulo. Cad. Folha Acontece - Crítica/artes plásticas. 07/06/2006. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/acontece/ac0706200601.htm. Acesso em 17/06/2006.