Júlio Neves assume Masp em clima de conciliação
O arquiteto e urbanista Júlio Neves, 62, mal assumiu o comando do Museu de Arte de São Paulo e já acendeu o cachimbo da paz. Eleito anteontem diretor-presidente do Masp, diz que tentará uma administração de consenso. ``Queremos pacificar o museu."
Por pacificar entenda-se jogar uma pá de cal sobre as rixas que, há oito meses, opõem as facções do empresário José Mindlin e do ex-ministro Roberto Costa de Abreu Sodré, agora vitoriosa.
A chapa de Sodré, encabeçada por Neves, manifesta o desejo de administrar o Masp em sintonia com os velhos rivais.
Para tanto, não descarta a possibilidade de criar mais comissões e cargos de diretoria no museu. Pensa também em ampliar o número de integrantes do conselho deliberativo. Tudo com a meta de abrigar os partidários de Mindlin.
Entre a intenção e o gesto, porém, há uma boa distância. Assim que foi eleito, Neves atribuiu mais poderes ao conselho deliberativo, presidido por Sodré. ``A partir de agora, cabe a Abreu Sodré o comando da política cultural e educacional do Museu. Vou ficar com a parte administrativa", afirma o arquiteto.
Outra mudança se dá no cargo de conservador-chefe do museu. O atual titular, Fábio Magalhães, será substituído por seu assistente, Luiz Ossaka, até que o conselho deliberativo tome uma decisão definitiva. Magalhães, que apoiou a chapa de Mindlin, apresentou ontem sua carta de demissão.
``Foi uma decisão pessoal do Fábio", diz Neves. "Mas quero sua sugestão sobre o nome a escolher e faço questão de que ele participe com a gente da nova administração do museu."
A Folha tentou ouvir Magalhães e Mindlin durante a manhã de ontem, mas não os encontrou.
Membro da chapa derrotada, o advogado Aldo Raia, 67, afirma que não criará nenhum empecilho à gestão de Júlio Neves. ``Só que não me sinto à vontade para participar direta e formalmente da nova administração. Não teria sentido nem necessidade."
História da crise
As duas alas d disputam o controle do Masp desde março. Na ocasião, Magalhães se desentendeu com a diretoria, pediu demissão. Abriu-se uma crise que desembocou na renúncia do presidente Hélio Dias de Moura e do vice Mário Pimenta Camargo, ambos ligados a Abreu Sodré.
Promoveram-se novas eleições em abril. O grupo de Mindlin venceu e Fábio Magalhães reassumiu o cargo de conservador-chefe.
Um mês depois, Pimenta Camargo questionou judicialmente o resultado. Apontava irregularidades na assembléia que levou José Mindlin à presidência do museu.
No início de outubro, depois de a Justiça se pronunciar favoravelmente à ala de Abreu Sodré, Mindlin concordou em convocar outra eleição para a tarde de anteontem. Desta vez, a chapa do ex-ministro levou a melhor.
``As disputas no museu são página virada", afirma Neves. O novo presidente tem como maiores objetivos popularizar o museu e ampliar o seu acervo. ``Daqui a dez anos, São Paulo será a segunda maior cidade do planeta", projeta o arquiteto, ``Espero que o Masp chegue também à primeira linha dos museus do mundo."'
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/10/26/ilustrada/1.html