Conselho veta construção de torre do Masp
A torre que o Masp (Museu de Arte de São Paulo) planejava erguer no prédio ao lado de sua sede, na avenida Paulista, foi vetada ontem pelo Conpresp, o órgão da prefeitura responsável pelo patrimônio histórico. A construção da torre, segundo a decisão, interferiria no Masp a ponto de descaracterizar o prédio do museu.
O veto tem caráter definitivo. A reunião do Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental) analisou um recurso impetrado pelo Masp porque o projeto da torre já havia sido indeferido por unanimidade em fevereiro deste ano.
A torre do Masp seria patrocinada pela Vivo. A operadora de celular comprou o prédio para o museu por R$ 12 milhões e tinha planos de colocar o seu logotipo no alto da torre. "Masp Vivo" era o nome do empreendimento.
Dos sete conselheiros que foram à reunião, cinco votaram contra a torre e o vereador Juscelino Gadelha (PSDB) absteve-se. Sérgio Rubinstein, representante da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no conselho, foi o autor do único voto favorável ao projeto.
Criada pelo arquiteto Júlio Neves, presidente do Masp há dez anos, a torre teria como base o edifício Dumont-Adams, que fica na esquina ao lado do museu, e seu pico alcançaria 125 metros de altura. A torre abrigaria um cibercafé e funcionaria como um belvedere do qual seria possível avistar o mar, de acordo com Neves.
O recurso apresentado pelo Masp foi analisado por Mônica Junqueira Camargo, professora da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) e representante do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) no Conpresp.
A professora argumenta na proposta que a torre interfere nas "áreas envoltórias" do museu. A idéia da lei é evitar que uma obra vizinha comprometa a integridade do bem tombado.
O Masp é tombado por órgãos do patrimônio histórico nas três esferas: Iphan (federal), Condephaat (estadual) e Conpresp (municipal). Por causa do tombamento, qualquer obra vizinha ao prédio do museu precisa ser aprovada. O Condephaat aprovou a torre e o Iphan considerou que o projeto está fora de sua jurisdição. Para a torre ser construída, não pode haver veto de nenhuma instância, como o que foi anunciado ontem pelo conselho municipal.
Mônica Junqueira de Castro defende que a torre de Neves afetaria o prédio projetado em 1958 pela arquiteta Lina Bo Bardi (1915-1992) e inaugurado dez anos depois. "A proposta de mudança imponente, como está aqui apresentada, acarretará um desequilíbrio na paisagem que conforma e complementa o edifício", escreveu no voto que saiu vencedor na reunião do Conpresp.
A construção da torre, na concepção da professora da USP, criaria uma competição com o prédio de Lina e "resultará no enfraquecimento do caráter simbólico de ambos". Na conclusão, ela escreveu: "Entendemos que a torre proposta interfere de forma radical na escala do bem tombado, descaracterizando-o de forma a comprometer sua integridade".
Concurso
Júlio Neves tentou de última hora dois recursos para tentar salvar a torre: 1) apresentou um parecer do advogado Toshio Mukai, segundo o qual o Conpresp não tinha competência para analisar o caso da torre; e 2) levou uma proposta do presidente do IAB, Paulo Sophia, para que fosse aprovada a reforma do prédio comprado pela Vivo, e o Masp promoveria um "concurso fechado", conduzido pelo presidente do museu, para escolher um novo projeto para a torre. O parecer foi derrotado e a proposta, recusada.
A proposta de Sophia fazia parte de um projeto maior do presidente do Masp para aprovar a torre. Na última semana, o vice-presidente da Asbea (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura), Marcio Mazza, fez circular texto com apoio ao mirante. A lista incluía o próprio Sophia, presidente do IAB, e seis ex-presidentes do instituto: Carlos Bratke, José Magalhães Jr., Pedro Cury, Pedro Paulo de Melo Saraiva, Pedro Taddei Neto e Gilberto Belleza.
Outro lado
Júlio Neves, presidente do Masp, não foi encontrado ontem pela Folha para comentar o veto do Conpresp à torre que o Masp planejava construir. A reportagem o procurou três vezes em seu escritório de arquitetura. A secretária de Neves no escritório afirmou que ele não foi ontem ao escritório nem sabia como encontrá-lo.
A Vivo, que comprou o prédio para o Masp, afirmou, por meio de sua assessoria de comunicação, que a empresa só vai se manifestar sobre o projeto quando ele estiver totalmente aprovado. Sobre os recursos que antecipou ao Masp, de R$ 12 milhões, a operadora disse que encontrará uma "solução interna" para a questão.
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u114562.shtml