A vazia Bienal de São Paulo parte 2
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Fui à 28a Bienal de Artes de São Paulo pra poder falar.
Mal. [Difícil falar bem daquilo.]
A Bienal do Vivo Contato não me contactou em nada. Entrei lá por volta das 17 horas, saí as 19. Acho que a melhor coisa que eu vi lá foi logo que entrei, um moleque de uns três anos tocando uma bateria microfonada e ligada. Não sei se ele tocar a bateria alí fazia parte da “performance” ou da “inteiratividade” com a “obra”, mas foi divertido ver o moleque fazendo barulho. Na entrada o esquema é bem confuso. Primeiro guarda a mochila no guarda volumes, depois passa pelo detector de metais e depois entra. Tipo o museu judeu em Berlim. Aí o 1o andar está ocupado por salas de produção, salas de patrocinadores (que estavam vazias), etc e o “Video lounge“, pequenas saletas com um sofá improvisado e caixas de som no encosto onde você pode sentar e assistir à vídeos. Vídeos diversos, vídeos que pareciam clipe do Scissor Sisters (se é que não eram)… Aí você encontra uma banca tipo de chaveiro que o cara te dá uma chave que não abre porta nenhuma, e em seguida você vê uma obra que tem um monte de letras brancas empilhadas tipo sopa de letrinhas, essa aí eu não sei o nome, mas apelidei de Arnaldo Antunes.
Subindo a rampa projetada pelo Niemeyer, tá lá: O VAZIO. Que ao contrário do que alguns disseram não tem nada de lindo ou sei-lá-o-que. Tipo, eu já vi aquele andar vazio antes. É bonito e tal, mas NÃO É A BIENAL DE ARTES DE SÃO PAULO. Pra quem já viu Munch e Warhol numa Bienal de São Paulo, aquele andar vazio dá uma sensação de inferioridade cultural, ideológica. Parece que deixaram aquilo lá por preguiça, sabe? No meio do andar vazio você encontra o Maurício Ianês, artista que fica lá parado ou andando, sempre em silêncio e que vem recebendo doações para sobreviver na Bienal. Tinha de tudo lá, chocolate, camiseta, bala, pão, desodorante e etc… olhei, fotografei, fiquei um tempo lá. Questionei a Educadora (tem um monte deles por lá) sobre o lixo dele. Na minha opnião o lixo tem que ficar lá, pois as embalagens também fazem parte das doações, logo fazem parte da obra ou performance do artista. Pra quem quer saber eu não doei nada para esta obra. E sem meias palavras, o Maurício que me desculpe, mas na minha opinião começar a Bienal pelado e viver às custas de doações nada mais é do que mendigar. E nem atenção pra questão da pobreza ele tá chamando. Ele tá lá pra aparecer na TV, nos jornais, internet. Não encontrei mensagem, não existe denúncia, não existe beleza, não existe arte em economizar um mês de aluguel morando dentro da Bienal e querendo me convencer de que isso é arte. E eu me recuso a discorrer sobre o tobogã que instalaram lá.
No 3o andar, coisas. Vou falar de duas, uma boa e outra ruim:
Boa - Vá e assista ao vídeo de Javier Peñafiel “Viver entre linhas (as respostas difíceis)”, simples e inteligente. A impressão que tive é que ele tá alí em looping tirando sarro das coisas que estão alí ao seu redor.
Ruim - Allan McCollum, Mil e oitocentos desenhos. São 1800 quadrinhos contendo figuras diferentes entre si emolduradas e posicionadas de pé e enfileiradas numa bancada. A Educadora muito simpática veio me explicar que o cara fez tudo a mão e que aqueles desenhos representavam a humanidade que é muito parecida quando se vê no geral, mas em detalhe temos nossas diferenças e ninguém é igual a ninguém. Agora eu pergunto, o cara precisa desenhar 1800 (hum mil e oi to cen tos) desenhos abstratos diferentes pra me dizer isso?! Ah! vai catar coquinho, mano! Pra mim aquilo lá parecia um enorme Cara a Cara (o jogo da Estrela). Sorry.
Aí, acabou. Acabou a Bienal. Sabe, eu não sou super in do mundinho das artes, mas eu gosto, aprecio e onde quer que eu vá eu faço questão de entrar num museu. Eu sei apreciar e respeitar a arte moderna, contudo, nada que tinha alí me passou uma mensagem, me tocou, agregou alguma coisa. Vídeos você passa na Mostra de curtas, na Mostra de cinema, no Animamundi. Quer tobogã, vai no Parque da Mônica. Mendigo, você vê e ajuda se quiser em qualquer esquina. Esqueceram do por quê da Bienal. Acho que se eu fosse um jovem artista sairia desta Bienal pensando em me render ao mercado publicitário ou de decoração.
Como eu sou apenas uma jovem fotógrafa amadora, recomendo sim ir ao Parque do Ibirapuera, entrar no MAM que tá com uma exposição bem legal e depois na OCA que está com a super bem montada exposição dos 60 ANOS DO MAM. Vale a pena, é demais, a OCA é digrátis e terça o MAM é grátis. Depois disso, vá a Bienal e tenha sua própria opinião sobre o vazio de graça também.