Quando as idéias voltam a ser perigosas
Pixação da 28a Bienal de São Paulo
Nesta sexta-feira, 19 de dezembro, às 17h, acontecerá uma manifestação pela libertação de Caroline Pivetta da Mota, 23, presa há quase dois meses por ter participado da pixação do andar vazio da 28a Bienal de São Paulo. A ação ocorreu no dia 26 de outubro, envolveu aproximadamente 40 pixadores e pode ser considerada uma resposta às proposições da curadoria desta Bienal, intitulada "Em vivo contato". No texto de abertura do guia da exposição os curadores afirmaram:
"A transformação do andar térreo do Pavilhão Cicillo Matarazzo numa praça pública, como no desenho original de Oscar Niemeyer para o parque em 1953, sugere uma nova relação da Bienal com seu entorno - o parque, a cidade -, que se abre como a ágora na tradição da polis grega, um espaço para encontros, confrontos, fricções. (...) Ao contrário das bienais anteriores, que transformaram o interior do pavilhão modernista em salas de exposição, desta vez o segundo andar está completamente aberto. É nesse território do suposto vazio que a intuição e a razão encontram solo propício para fazer emergir as potências da imaginação e da invenção. Esse é o espaço em que tudo está em um devir pleno e ativo, criando demanda e condições para a busca de outros sentidos, de novos conteúdos".
No entanto, tão logo a cidade, os confrontos, as fricções e os novos conteúdos ocuparam aquele espaço a própria curadora adjunta da exposição saiu correndo gritando pelos seguranças. O curador Ivo Mesquita classificou a ação como "arrastão" e "tática terrorista". Procurado pela imprensa, Rafael Augustaitz, a quem é atribuída a organização desta e de duas pixações coletivas anteriores (uma na Faculdade Belas Artes e outra na Galeria Choque Cultural), respondeu com uma frase do filósofo Friedrich Nietzsche: "Como falta tempo pra pensar e ter sossego no pensar, não se estuda mais as opiniões divergentes. Contenta-se em odiá-las". Mas se o alargamento da noção de "arte" implicado na ação ainda não está sendo estudado e discutido, o mesmo não se pode dizer da solidariedade com Caroline. Uma série de pessoas já se manifestaram publicamente em sua defesa, desde amigos próximos até o novo ministro da Cultura, Juca Ferreira.
Local da manifestação:
Mube - Museu Brasileiro de Escultura (Av. Europa, 218 - continuação da Rua Augusta, sentido Jardins, ao lado do MIS - Museu da Imagem e do Som)
matéria publicada originalmente no Centro de Mídia Independente
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