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Pichadora da Bienal deixa presídio na zona norte de São Paulo

(Folha Online, 19 de dezembro de 2008)

Matéria publicada originalmente na Folha Online


Após mais de 50 dias presa, a pichadora gaúcha Caroline Pivetta da Mota, 24, deixou a Penitenciária Feminina de Santana nesta manhã. Ela teve reconsiderado ontem seu pedido de habeas corpus no TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo).

O advogado da jovem, Augusto de Arruda Botelho, informou que ela passa bem, mas não falará com a imprensa no momento. A mãe da pichadora, Rosemari Pivetta da Mota, estava ansiosa alguns minutos antes da soltura. "Quero tomar café da manhã com ela, conversar muito. Mas ainda não sei o que vou falar para ela", disse.

Caroline fazia parte de um grupo que, no dia 26 de outubro, durante a 28ª Bienal de São Paulo, pichou as paredes do chamado "andar vazio" do prédio projetado por Oscar Niemeyer, no parque Ibirapuera. Os pichadores também quebraram uma vidraça.

Sua audiência pública está marcada para 17 de fevereiro de 2009. Serão ouvidas testemunhas de acusação e de defesa, Ministério Público e também o taxista Rafael Vieira Camargo Martins, 27, que faz parte do grupo Susto's, um dos que promoveram a ação. Martins, que alega ter apenas seguido o ato como espectador, responde a processo em liberdade.

Na denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo, Caroline é acusada de se associar a "milicianos" com fins de "destruir as dependências do prédio". Dependendo do julgamento, ela pode ficar atrás das grades até 2010.

Há duas semanas, Caroline falou com a reportagem da Folha Online, de dentro da penitenciária. "A gente não queria estragar as obras deles [da Bienal], mesmo porque não tinha obra [o segundo andar estava vazio]. A obra, ali, nós que íamos fazer", disse.

Repercussão

Seu caso provocou reações em todo país. Os ministros Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) e Juca Ferreira (Cultura) apelaram pela liberdade da jovem, o que repercutiu no governo de São Paulo.

Diversos artistas cobraram a Fundação Bienal para ajudar a liberá-la, e um abaixo-assinado circulou na internet com o mesmo pedido. Os curadores da exposição deste ano negaram ter responsabilidade no caso em artigo publicado anteontem na Folha.

Ontem, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) recebeu pedido de habeas corpus para soltar Caroline. A pichadora já trocou de defesa três vezes e teve dois pedidos de habeas corpus negados. O caso já passou pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo e agora está com Augusto de Arruda Botelho, diretor do Instituto de Defesa do Direito de Defesa, que tenta levar o processo para o STJ.