"Não há tempo para Bienal tradicional"
FOLHA DE S. PAULO
10 de novembro de 2007
FOLHA Ilustrada
Fonte: FIORATTI, G. "Não há tempo para Bienal tradicional". Folha de S. Paulo. Cad. Folha Ilustrada, 10/11/2007. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1011200732.htm. Acesso em 15/11/2007.
"Não há tempo para Bienal tradicional"
POR GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA FOLHA
Para Pires da Costa, presidente da Fundação Bienal, projeto que descarta exposição é "extremamente moderno"
Pires da Costa afirma, em coletiva, que "falta de tempo no fim foi positiva, pois vai permitir reflexão sobre o papel da Bienal"
O presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Manoel Pires da Costa, afirmou ontem que não há tempo para a realização de um projeto para a Bienal Internacional de Artes de 2008 no modelo usado para mostras anteriores. "Nosso tempo não é escasso a ponto de não podermos fazer uma Bienal, mas também não é suficiente para fazermos uma Bienal tradicional."
Segundo o presidente da fundação, esse foi um dos fatores centrais para a decisão de escolher um projeto -assinado por Ivo Mesquita, curador-chefe da Pinacoteca do Estado- que quebra uma tradição de mais de 50 anos: desde 1951, a Bienal se dedica a abrir espaço para artistas plásticos, nacionais e estrangeiros, das mais diferentes vertentes; para 2008, a curadoria deixa esses artistas em segundo plano. O projeto prevê um andar dedicado a uma espécie de arquivo histórico, com documentos e livros, um andar completamente vazio e o térreo do pavilhão aberto para performances, exibições de vídeos ou até mesmo festas. A programação ainda não foi definida.
Ao justificar sua escolha, Pires da Costa também se propôs a discutir o papel da Bienal Internacional de Artes de São Paulo, reafirmar sua função de apontar novos rumos no meio artístico. "Essa falta de tempo no fim foi positiva, pois vai nos permitir uma reflexão, não só sobre o papel da Bienal, mas sobre o papel das 200 bienais espalhadas pelo mundo. Todas elas estão procurando um caminho. Nós vamos fazer alguma coisa diferente. Considero o projeto do Ivo [Mesquita] extremamente moderno", disse.
Sobre a falta de tempo hábil, o presidente da fundação diz que 2007 foi um ano atípico, em que teve de responder várias denúncias relativas a sua administração, principalmente sobre a contratação de parentes para prestação de serviços à fundação e de uma empresa da qual é sócio, a editora TPT Comunicações, para produção de produtos da Bienal. O Ministério Público considerou que negócios entre a empresa de Pires da Costa, a TPT Comunicações, e a Bienal não trouxeram prejuízos à fundação.
Sobre as dívidas da fundação (cerca de R$ 3 milhões), Pires da Costa prometeu quitá-las até o fim do ano. A crise financeira também foi citada como um dos motivos da escolha do projeto, que, segundo o presidente da fundação, deve ter orçamento menor do que as mostras de anos anteriores.
"Cara a tapa"
Sentado a seu lado durante a coletiva, Ivo Mesquita diz que espera reações dos mais diversos tipos à sua idéia de curadoria. "Estou dando a cara a tapa", diz. "Mas espero que as pessoas se manifestem mesmo, espero um grande debate sobre o trabalho. Estou propondo um vazio, um hiato que funcione como um tempo de reflexão. Ou uma quarentena, por isso a Bienal vai ficar em cartaz por 42 dias." Em tom de brincadeira, Pires da Costa disse esperar uma divisão de opiniões no exterior. "Serão 20% contra a proposta e 80% a favor".
Durante a coletiva, Ivo Mesquita também foi questionado sobre uma possível rejeição do meio artístico a uma parceria assumida com uma administração que respondeu a tantas denúncias e que ainda tem dívidas financeiras com artistas chamados para a última Bienal. "Espero que falem na minha cara e não pelas costas. Sou um profissional técnico. Posso responder apenas pelo meu projeto, que é propor um espaço para reflexão", disse.
Fonte: FIORATTI, G. "Não há tempo para Bienal tradicional". Folha de S. Paulo. Cad. Folha Ilustrada, 10/11/2007. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1011200732.htm. Acesso em 15/11/2007.