30ª Bienal quer relembrar esquecidos
30ª Bienal quer relembrar esquecidos
Mostra terá 120 artistas que ficaram à sombra de nomes mais badalados, metade deles com trabalhos inéditos
Exposição, que começa em setembro do ano que vem, escalou os autores que influenciaram de John Cage a Nan Goldin
DE SÃO PAULO
Luis Pérez-Oramas sabe que a história é escrita pelos vencedores, mesmo que esses vencedores também não tenham tido muito controle sobre como ela foi escrita.
Foi pensando nisso que o curador da próxima Bienal de São Paulo escalou os artistas da sua 30ª edição, que começa em setembro de 2012.
Não que ele tenha buscado redescobrir nomes esquecidos, mas esse venezuelano radicado em Nova York, onde trabalha no MoMA, partiu das polaridades da própria carreira, que oscila entre centro e periferia, para destrinchar o que chama de "densidade histórica do presente".
Nisso, Pérez-Oramas deixa ver que esta não será uma Bienal de nomes badalados, de obras monumentais nem números hiperbólicos como foi a última edição da mostra.
Terá menos artistas, em torno de 120, com cerca de metade do espaço reservado para obras novas, feitas para a exposição, em vez dos clássicos vistos na edição passada. Também deve ter cerca de 25% de artistas brasileiros.
"Estou fazendo o movimento oposto; a Bienal não pode ser um museu nem uma feira, deve encontrar um caminho do meio", diz o curador, sobre tensões entre mercado e relevância artística. "É minha responsabilidade chamar atenção para um conjunto de obras eloquentes, importantes, que são fundamentais nos dias de hoje."
Tentando reescrever parte da história, Pérez-Oramas então resgata artistas menos conhecidos que influenciaram ou foram influenciados por alguns nomes de peso maior, propondo o que chama de "constelações" de artistas.
Nesse ponto, estabelece um paralelo entre a produção do venezuelano Roberto Obregón com a do americano Félix González-Torres, que não estará na mostra, do chileno Juan Luis Martínez com o belga Marcel Broodthaers e a obra de Maryanne Amacher com a do músico experimental americano John Cage -arte sonora, aliás, terá forte presença na mostra.
MUNDO BORDADO
Bispo do Rosário, conhecido por seus mantos bordados, é a maior estrela de uma dessas constelações.
Nela estão o também brasileiro Fernando Marques Penteado, o marfinense Frédéric Bruly-Bouabré, o colombiano Nicolás París, o alemão Hans-Peter Feldmann, o francês Bernard Frize e a americana Elaine Reichek.
Estendendo a ideia de costura, elemento central da obra desses artistas, para uma reflexão sobre poesia e arquitetura, ou "bordado entre a palavra e o mundo", estarão na Bienal os experimentos arquitetônicos do coletivo Ciudad Abierta, surgido nos anos 60 no Chile.
O resgate histórico de Pérez-Oramas propõe ainda minirretrospectivas, com grande volume de obras de artistas que, na opinião dele, são importantes para entender o momento contemporâneo.
Estão nessa "reserva anacrônica", como diz o curador, artistas como Mark Morrisroe -morto aos 30 em decorrência da Aids-, que foi uma grande influência na obra de Nan Goldin. Outro fotógrafo na mostra é August Sander, um dos maiores retratistas alemães do século 20.
"Não é só olhar os esquecidos", diz Pérez-Oramas. "A ideia é ver como o presente projeta sua sombra sobre o passado e transforma um legado histórico em elemento da contemporaneidade."