Professores aprendem a ensinar arte
Beleza, criatividade, irreverência, cor, ócio, interação, crítica, talento. A artista e educadora Stela Barbieri começa sua palestra na unidade do CEU (Centro Educacional Unificado) Casa Blanca, na Estrada de Itapecerica, zona Sul de São Paulo, perguntando para cerca de 450 professores da rede de ensino fundamental do município, qual é a primeira palavra que lhes vem à cabeça quando pensam em arte. Às 10 h da manhã de sexta-feira, o trabalho com os educadores está apenas começando: durante todo o dia, eles teriam uma maratona sobre arte contemporânea para depois, a partir de setembro, levarem seus alunos à 29ª Bienal de São Paulo, no Ibirapuera.
"Para cada local serão 18 horas de trabalho", diz Stela. O projeto engloba ida de equipes a 13 unidades do CEU e comunidades como as de Heliópolis, Educandário e São Vicente. Seu papel nos encontros, como coordenadora do projeto educativo da 29ª Bienal, é "encorajar o público a dizer o que pensa" e apresentar um material extenso, feito em parceria com a equipe de designers da entidade. Contém fichas sobre artistas da mostra (entre eles, Antonio Manuel, Sandra Gamarra, Nuno Ramos e Steve McQueen), temas da mostra e até um jogo. Mas no CEU Casa Blanca, os professores estavam mais preocupados com o tema da pichação e da relação arte/periferia.
Grafite. O embate com os professores é tenso, mas, ao mesmo tempo, aberto. "Pichação é um grito, feio, mas existe, muitos alunos daqui fazem grafites", diz um dos professores. "Não há produção artística desconectada de seu momento histórico, mas, hoje, o grafite, que é uma linguagem de ruptura, da periferia, está de fora ? grupos que afrontam o poder têm pouca exposição", completa outro educador. "Não podemos descartar o grafite, pichação tem muito a dizer", defende uma professora, que depois citou poema de Manoel de Barros. Stela lembra à plateia que "pichação é um problema para a Bienal" ? é que na edição passada do evento, um grupo de cerca de 40 pichadores entrou no pavilhão do Ibirapuera e pichou o segundo andar do edifício do que era a "Bienal do Vazio". O fato levou a debates e à prisão de Caroline Pivetta da Mota.
Sem patrocinador. Desde agosto, Stela Barbieri está preparando o educativo da 29ª Bienal. "Acredito que nunca tenha sido feito um programa dessa escala, envolvendo tantos números", diz o presidente da Fundação Bienal, Heitor Martins. A previsão da instituição é levar 400 mil estudantes à mostra. Também, dos R$ 30 milhões do orçamento da edição, R$ 5 milhões são destinados ao educativo. "Mas é o único programa que ainda não tem patrocinador. Como o orçamento está todo na Lei Rouanet, estamos remanejando os recursos", diz Martins. Isso porque os trabalhos com professores (serão 5,6 mil da rede municipal e 7,5 mil da estadual ? com cursos também a distância) começaram em fevereiro. Depois, para a mostra, entre 21 de setembro e 12 de dezembro, a Prefeitura vai transportar 200 mil alunos à Bienal ? o governo do Estado ainda não definiu essa ação. Dentro da Bienal, ainda, os visitantes terão à disposição 500 monitores, estudantes das faculdades Santa Marcelina, USP, Faap, Unesp e Belas Artes.