Fundação já possui verba para Bienal
matéria originalmente publicada na Folha de S. Paulo
Instituição captou R$ 23 milhões para 29ª edição da mostra, em setembro; situação rompe com crise iniciada em 2000
Presidente da Bienal espera chegar a R$ 30 milhões; evento passou a ter
grande investimento da iniciativa privada em vez da União
Não se ouviu o espocar de rolha saltando de uma garrafa de champanhe,
mas o clima da reunião da diretoria da Fundação Bienal de São Paulo, na
última segunda, era próximo à felicidade entorpecente provocada pelo
espumante francês.
Nela, Heitor Martins, presidente da instituição, anunciou
que já havia captado R$ 23 milhões para a organização da 29ª
Bienal de São Paulo, com inauguração prevista para 21 de setembro, quando a estimativa
mínima para o evento era R$
20 milhões. Só em caixa, Martins já conta com R$ 11 milhões,
o equivalente ao que foi gasto
na última edição, em 2008, a
chamada "Bienal do Vazio",
que deixou um rombo de mais
de R$ 4 milhões, também já pagos pela nova direção.
Essa situação rompe uma histórica crise, que teve início em 2000,
quando a Bienal passou a ter dificuldades de captação e levou Ivo
Mesquita a renunciar ao cargo de curador, quando se propôs o adiamento
do evento. "A Bienal nunca se recuperou daquele choque. Creio que as
últimas duas edições foram interessantes, mas não se comparam às
anteriores", diz o curador costarriquense Jens Hoffmann, que dirige o
Instituto de Arte Contemporânea Wattis, em São Francisco, e pretende
visitar também a próxima edição.
Outros curadores estrangeiros, que não visitaram a última
edição, como Agustín Perez
Rubio, do Museu de Arte Contemporânea de Leon (Espanha), estão comprando suas
passagens para SP. "Curadores
como Chus Martínez e Yuko
Hasegawa ajudam a dar prestígio à nova Bienal", diz Rubio.
Retomada
Assim, ao que tudo indica, é o
momento da retomada da Bienal. "Creio que nos últimos
anos, a Fundação era mais hermética, e nós conseguimos nos
aproximar mais da sociedade,
pois temos um projeto bem estruturado e estamos fazendo
um esforço de comunicação",
diz Martins, à Folha, que espera chegar aos R$ 30 milhões,
valor considerado como ideal
para organizar a 29ª Bienal.
Itaú Unibanco, Fiat, Oi,
Deutsche Bank, Votorantim e
Klabin são algumas das empresas que estão investindo na
Bienal, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, revertendo o
perfil da última década, marcada basicamente por investimento direto da União, um dos
fatores que gerava atrasos.
"Conseguindo endosso do patrocinador, criamos um engajamento e um maior controle
de qualidade. Nossa perspectiva é criar agora vínculos de longo prazo", explica Martins. Pode parecer incrível, mas até
agora a Bienal sequer tinha
uma setor de captação. "Nós
revertemos o perfil da Fundação, que até agora tinha mais
funcionários envolvidos com
funções administrativas do que
com a preparação da própria
Bienal", conta o presidente. Assim, foi terceirizada, por exemplo, a contabilidade e criadas
três novas áreas, captação, design e relações institucionais,
além de ter reforçada a produção. "Creio que tudo isso está
sendo possível, pois a instituição nunca teve uma diretoria
como essa, com perfis muito
distintos. Temos advogados, financistas, professores e até organizadores de outras bienais.
Posso ser o que mais aparece,
mas não sou o que mais trabalha", diz Martins.
Apoio
O clima de otimismo, não
vem só do parque Ibirapuera.
Desde que foi lançado candidato a presidente, numa situação
de vácuo enquanto a Bienal se
afundava em dívidas, Martins
já tinha o apoio das entidades
culturais da cidade. "Nós o
apoiamos, pois ele tinha uma
história de relação com a arte
contemporânea e acredito que
fazia parte do projeto dele o
contato com as outras entidades", conta Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca do Estado.
Essa mobilização inicial,
concretizada numa carta de
apoio, foi motivada pelo Ministério Público (MP), que chegou
a indeferir a posse de Martins,
já que sua mulher, Fernanda
Feitosa, promove a SP Arte no
prédio da Bienal. Mas o MP voltou atrás, após a assinatura de
um Termo de Ajustamento de
Conduta (TAC), que proíbe ingerências de Martins no contrato de Feitosa com a Bienal.
Reunidas agora no "São Paulo Polo de Arte Contemporânea", um fórum que
visa programar as atividades paulistanas durante a Bienal, as
instituições museológicas da cidade, cujas reuniões contam até com o
secretário estadual de Cultura, João Sayad, recolocam a instituição
como figura central na cultura visual da cidade.
Em algumas edições recentes, é bom que se lembre, as
mostras paralelas eram mais
elogiadas do que a própria Bienal. "A Bienal agora tem a capacidade ser novamente o polo
articulador dessa ação", diz
Araújo.