Em SP para a Bienal, diretor da Tate Modern anuncia ampliação até 2012
Em maio passado, a Tate Modern, de Londres, comemorou seus dez anos com um fato inédito: transformou-se na instituição de arte com maior número de visitantes por ano, em comparação a outras com o mesmo tipo de acervo.
Ela tem, anualmente, 5 milhões de visitantes, contra o Centro Pompidou, em Paris (3,5 milhões), e o MoMA, de Nova York (2,8 milhões).
Parte desse sucesso se deve a seu diretor, Sir Nicholas Serota, 64, que conseguiu viabilizar a nova sede com um programa arrojado, alavancado pelas grandes instalações no Turbine Hall.
Há 22 anos diretor da instituição, ele agora prepara a ampliação da Tate Modern, novamente com a dupla de arquitetos Herzog & de Meuron, planejada para ter sua primeira parte inaugurada em 2012, por ocasião das Olimpíadas.
A relação do diretor inglês tem sido intensa com o Brasil nos últimos dez anos. Em 2003, ele organizou a grande mostra do acervo da Tate, na Oca, em São Paulo, um dos fatores que ajudou o Brasil a ser o país que mais acessou o site da Tate no início do século 21, após o Reino Unido.
Já nos últimos anos, foi a vez de a Tate apresentar a arte brasileira, com grandes exposições de Hélio Oiticica e Cildo Meireles, ambos com obras adquiridas pela instituição graças ao comitê latino-americano. A Tate possui agora oito obras de Oiticica, entre elas a histórica "Tropicália".
Hoje, Serota está em São Paulo, por conta da 29ª Bienal de São Paulo, que abre suas portas ao público no próximo sábado. Há duas semanas, ele fez um balanço Folha, em seu escritório, na Tate Britain, do sucesso do museu.
Hugo Glendinning | ||
Nicholas Serota, da Tate, que foi eleito em 2009 um dos mais poderosos do mundo das artes pela "Arteview" |
Folha - A Tate Modern completou dez anos. Qual o impacto do museu na cidade?
Nicholas Serota --O principal impacto foi mudar o lugar das artes visuais na cultura da Inglaterra. Por anos, costumávamos dizer que tínhamos bons artistas, mas eles não faziam parte do discurso cultural. Éramos vistos como um país forte em literatura, teatro e música, mas, tirando Turner, Constable e, talvez, Henry Moore, as artes visuais não eram aparentes. A criação da Tate Modern decididamente alterou isso.
Agora, quando se conversa com jovens, as artes visuais estão em suas mentes. Nós temos cerca de 5 milhões de visitantes por ano e conosco aconteceu algo raro: é comum visitações massivas logo quando um museu é aberto, mas depois seus números caem, como se viu em museus franceses e alemães.
Nós mantemos os números e isso ocorre porque temos uma leitura internacional da arte e não apenas centrada na Europa e EUA.
A existência de um espaço como o Turbine Hall ajudou a transformar a Tate num lugar de encontros?
Os museus são conhecidos, através de gerações, como um bom lugar para se encontrar pessoas, são espaços sociais. E a Tate Modern criou um espaço, que é também um lugar seguro, na cidade. Ele se transformou num local de congregação, numa praça. Vejo isso pelos meus próprios filhos. Minha filha, que estava acostumada a frequentar o museu, se surpreendeu quando seus amigos passaram a sugerir para se encontrar na Tate Modern, o que ela nunca faria.
Qual a sua expectativa para a Bienal de São Paulo?
Por muitos anos, a Bienal de São Paulo foi a mais importante exposição para sinalizar o desenvolvimento da arte contemporânea fora da Europa e Estados Unidos.
Sabemos também que houve momentos de dificuldade, mas eu tenho esperanças de que, em 2010, a exposição será muito forte. E a Bienal está sob uma nova direção, que tem maior independência e espero que, por isso, 2012 e 2014 sejam anos que sigam esse novo modelo.
Obras importantes de brasileiros como Hélio Oiticica foram recentemente adquiridas pela Tate por meio do comitê latino-americano. Ele foi criado por você?
Sim, esse é um grupo de apoiadores. Eles são cerca de 40 e a coordenadora é Tiqui Atencio Demirdjian, venezuelana que vive em Londres. Todos eles contribuem financeiramente para adquirirmos latino-americanos.
E, em sua maioria, compramos obras de artistas vivos, apenas ocasionalmente compramos trabalhos de meados do século 20, como fizemos com "Tropicália", de Hélio Oiticica.
Como a instituição lida com as novas mídias e redes sociais?
A internet vem se tornando algo muito importante para nós. Alcançamos grandes audiências que não conseguem vir ao prédio fisicamente, é intrigante que, após o ano 2000, nossa maior audiência fora do Reino Unido veio do Brasil.
Não tenho certeza se ainda é assim, mas com certeza é uma parcela significativa.
A Tate consegue hoje no setor privado cerca de 60% de seu orçamento. A que se deve esse sucesso?
O sucesso do programa atrai o interesse de patrocinadores, que procuram apoiar eventos que alcançam muita gente. Somos ambiciosos na filiação, temos bastante sucesso na livraria, na loja e no restaurante.
E você acredita que a Tate Modern mudou também a forma como os políticos observam as artes visuais?
Sim, acho que eles foram afetados também, percebendo que cultura não é algo para uma pequena elite, mas que alcança audiências muito mais amplas.