Após uma década de crise, Bienal recupera prestígio nacional e internacional
Nicholas Serota, diretor da Tate (Londres), e Carolyn Christov-Bakargiev, diretora da 13ª Documenta de Kassel (Alemanha), são os principais nomes de uma constelação de curadores, galeristas, críticos, colecionadores e artistas que hoje participam da inauguração para convidados da 29ª Bienal de São Paulo, que é aberta ao público no próximo sábado.
Após uma década de crises, a fundação recupera a imagem da Bienal e seu prestígio nacional e internacional. "Realmente passamos por uma retomada, e em vários sentidos. Da parte dos conselheiros, é a retomada do engajamento e da vontade de participar", diz Elizabeth Machado, presidente do conselho da instituição.
A ideia de retomada ganha sentido quando se tem em mente a edição passada, de 2008, apelidada de Bienal do Vazio, que semanas antes de abrir sofreu um corte no orçamento. Na época, o curador Ivo Mesquita afirmava que isso era comum, pois nas oito Bienais em que havia trabalhado havia um problema de "fluxo de caixa".
"Não temos problema de fluxo, a exposição está garantida", disse Emilio Kalil, diretor de produção da 29ª Bienal, orçada em R$ 30 milhões.
O responsável por essa transformação é o empresário Heitor Martins, eleito presidente no auge da crise que já durava dez anos.
"Heitor reflete a mudança dos tempos e faz parte de um perfil de pessoas que usam seu nome para projetar a Bienal, e não o contrário", diz Andrea Matarazzo, atual secretário da Cultura do Estado e sobrinho-neto do fundador da Bienal, Ciccillo Matarazzo (1898-1977). Ele chegou a analisar as contas da Bienal, mas desistiu de se candidatar, "porque no momento era muito complicado".
Danilo Verpa - 14.set.10/Folhapress | ||
Operários pintam logotipo repaginado no prédio da Bienal |
Empossado em agosto do ano passado, em um mês Martins conseguiu R$ 4 milhões do Ministério da Cultura para reformar o prédio.
As dívidas da Bienal anterior, estimadas em cerca de R$ 4 milhões, também foram saldadas. Em seis meses, o empresário reuniu R$ 26 milhões. A Prefeitura de São Paulo também cumpriu sua parte e, em dois anos, repassou R$ 4 milhões.
"A situação da Bienal era tão precária que, mesmo quando o MinC queria ajudar, não era possível, pois havia uma inviabilidade institucional de manter convênios. Mas essa crise estava relacionada a um modelo de empreendimento centralizado e, quando Edemar Cid Ferreira faliu, a Bienal foi junto", diz Afonso Luz, um dos assessores do MinC.
De fato, uma das razões do sucesso da gestão de Martins foi reforçar a instituição do ponto de vista operacional. "Percebemos que a Bienal estava esvaziada. Quase todos os serviços eram terceirizados. Então revertemos esse quadro", conta Martins.
Para o empresário, a Bienal do Vazio também ajudou na mudança: "Havia uma frustração muito grande, porque a sociedade não achava que a Bienal podia acabar. Quando chegamos com uma agenda positiva, houve um reconhecimento imediato".
Graças a esse processo, nos bastidores já se comenta que, independentemente da qualidade da mostra, esta edição já é ótima. Ou, como resume o artista Tunga: "Trata-se de um movimento das elites em tomar a rédea do que estava sem rédeas".