A função da arte

relato da palestra de Gabriela Salgado, por Jorge Menna Barreto



Qual a função da arte? A arte tem função? Para que e para quem?

O projeto The Fight do artista Humberto Vélez foi apresentado por Gabriela Salgado como a construção de uma ponte sobre o abismo que separava a comunidade nas imediações da Tate Modern e a instituição. Apesar da proximidade física, a Tate e a comunidade ao redor pouco dialogavam, se é que dialogavam.
O projeto de Vélez previa portanto um diálogo a partir de um repertório que viesse da própria comunidade, que não fosse imposto pelo artista. Seu objetivo, nas suas próprias palavras, era de “encontrar maneiras de conectar emocionalmente e socialmente com  as identidades das pessoas”.

Essa espécie de “escuta da comunidade” diferenciaria o projeto de Vélez de outras práticas participativas que envolvem comunidades, quando as idéias do artista já estão previamente concebidas e não levam em conta as especificidades da comunidade onde atua.

Uma das especificidades da comunidade que circunda a Tate é a paixão e a tradição no boxe. Esta atividade tem uma grande importância social e econômica para esta região no sul de Londres, que vai além de ser um mero esporte. Fez sentido então que o boxe fosse um eixo central na proposta de intervenção artística de Vélez.

Esta situação coloca claramente uma função para o trabalho artístico, e agrada um determinado tipo de pensamento que busca na funcionalidade das coisas a sua razão de existir. Neste caso, temos atores específicos: uma comunidade no sul de Londres e uma instituição de arte mundialmente famosa que está “descolada” de seu entorno. A arte aí tem uma função "regeneradora" e, nas palavras da própria palestrante, “pretendia levantar questões sobre inclusão social, o uso de espaços públicos e a função das instituições de arte,... propunha conectar a instituição de arte com a população local cujos interesses não incluíam a Tate”.