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MESA 4 (tarde) – Curadoria & pesquisa

Por Felipe Querétte*

Sábado, 8 de março de 2008 

Bitu Cassundé (CE), Marisa Mokarzel (PA) e Cauê Alves (SP). Mediação de Paulo Herkenhoff (RJ) 


Na última mesa do seminário Panorama do Pensamento Emergente, realizada na tarde do sábado (08/03), foram reunidos os curadores caracterizados por suas relações com projetos de pesquisa e o meio acadêmico: Bitu Cassundé (CE), Marisa Mokarzel (PA) e Cauê Alves (SP), com mediação de Paulo Herkenhoff (RJ), que apresentou cada participante à medida que eles iniciavam suas falas. 

Bitu Cassundé, atualmente fazendo mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresenta brevemente o cenário de artes em Fortaleza, destacando a importância da criação do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Segundo ele, há aproximadamente dez anos se inicia um circuito de arte e com ele a noção de curadoria começa a ser disseminada no Ceará. Cassundé conta que se tornou curador devido ao trabalho em instituição e que a atividade precisa mesmo ser motivada por afeto, dadas as dificuldades por ele enumeradas: políticas inadequadas, problemas nos editais, coronelismo e falta de continuidade. Para ele, em Fortaleza a crise é tanto acadêmica como de mercado. Cassundé apresentou três de seus projetos curatoriais: Designu desdobramentos, Re-cortes do eu e Incisão

Marisa Mokarzel, que desenvolve seu trabalho em Belém, fez mestrado no Rio de Janeiro e doutorado em Fortaleza. Sobre Belém, ela delineia o sistema cultural que implementa sistematicamente a produção contemporânea na pauta da instituição Casa das 11 janelas. O museu, instalado em um edifício histórico que já foi um hospital militar, recebeu da Funarte, em 1997, parte considerável de seu acervo. A partir do acervo doado, Marisa e colegas propuseram uma exposição de longa duração que dialogasse com uma noção de história da arte, projeto chamado Traços e transições, cujas obras Marisa apresentou. 

Por fim vem a fala de Cauê Alves, mestre em filosofia em cuja formação participou de vários grupos de texto. Cauê fala dos trabalhos que realiza por solicitação de instituições e do Clube da Gravura, projeto que desenvolve junto ao Departamento de Negócios do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) de modo a fomentar a formação de coleções de arte. Cauê alega que a posição de curador do Clube é a de alguém que se põe a serviço do mercado, por vezes mais até do que de outros compromissos. Retomando a ambigüidade da relação curadoria-instituição já discutida em mesas anteriores, Cauê apresenta um projeto de exposição que vem realizando para o Itaú Cultural. Quase líquido é o resultado de ponderações entre o tema proposto pelo departamento de marketing da instituição –sustentabilidade- e o referencial de fluidez e relatividade que Cauê buscou no teórico Zygmunt Bauman, no ímpeto de propor algo que "não seja apenas uma adesão, mas que faça alguma diferença". 

Paulo Herkenhoff finaliza pontuando cada fala. Para os lamentos de Cassundé ele deixa a epígrafe "o verdadeiro é o que se pode, o falso é o que se quer"; a fala de Marisa reflete a busca por um lugar institucional; e no exposto por Cauê ele observa a relação com a instituição, no caso um organismo bancário. Paulo então apresenta circunstâncias como o rearranjo no campo cultural na década de 80, bem como a reorganização bancária (privatização) e a concentração de riqueza para depositarmos um olhar crítico aos centros culturais dos bancos: Paulo sai com pressa para pegar seu avião e deixa as provocações: "Seria a lei Rouanet o colesterol da cultura brasileira?" e "temos que estar acordados para os sistemas de censura".  

O problema estaria no fato de os bancos darem dinheiro para cultura, recebendo 100% de desconto fiscal e levantando o nome do banco às custas de dinheiro público. Além disso, através dos centros culturais dos próprios bancos, pessoas de importância nessas instituições podem ter o poder de decisão sobre que obras entrarão num projeto de curadoria ou não, a partir de preferências pessoais (espaço decisório que Paulo entende como censura). 

No debate que se seguiu, com Cristiana Tejo substituindo Paulo como mediador, levantou-se a questão do curador poder "dizer não ao sistema", que foi respondida por Cauê com a perspectiva de dizer não ao sistema de dentro do sistema. Também se questionou a postura ética do curador que é convidado por uma instituição, mas não se envolve e se permite criticar abertamente a instituição que o contratou naquele momento. Para muitos, por fim, a mensagem que ficou é de que às vezes é preciso dizer não a instituições e convites que não estejam adequados à postura ética do curador. Nada se falou sobre a relação entre curadoria e pesquisa, uma vez que tal relação não transpareceu bem nas falas dos participantes.

*Felipe Querétte é designer e relator do projeto Pensamento Emergente.