Pesquisa mostra que 66% dos brasileiros querem retomar atividades culturais, mas 46% deles sentem-se inseguros
Levantamento feito em todo país revela também que o cinema está entre as prioridades do público no pós-pandemia. Distanciamento social e higienização constante dos espaços são as principais demandas dos entrevistados
Após sete meses com seus espaços culturais fechados, o Brasil começa a viver um processo maior de flexibilização do setor, com o retorno do funcionamento de salas de cinema, centros culturais e museus.
Diante deste cenário, uma pesquisa Datafolha, realizada em parceria com o Itaú Cultural, mostra que 66% dos brasileiros já estão prontos para voltar a frequentar tais locais. Os 34% restantes preferem esperar mais alguns meses ou, então, o surgimento de uma vacina.
Paulo Alves, gerente de pesquisa do Datafolha, destaca o alto índice de interesse na retomada de atividades culturais, mesmo entre aqueles que ainda estão isolados socialmente.
— Há 55% de entrevistados que ainda estão quarentenados, mas pretendem retomar sua vida cultural agora, durante a flexbilização. Entre os que dizem já viver normalmente, indo às ruas, o índice chega a 86%.
O levantamento foi realizado por telefone entre os dias 5 e 14 de setembro — período em que grande parte dos equipamentos culturais estava fechada — com 1.521 pessoas, entre homens e mulheres de 16 a 65 anos, de todas as classes sociais e de todas as regiões do Brasil.
A pesquisa dividiu as atividades culturais analisadas em dez categorias: cinema, teatro, shows, museus, bibliotecas, espetáculos de dança, atividades infantis, centros culturais, saraus literários/musicais e circo.
Os principais destaques da sondagem seguem abaixo.
Cinema, o mais querido
Para 44% de todos os entrevistados, o cinema foi citado como uma das atividades a serem retomadas, seja agora, daqui a alguns meses ou apenas quando houver vacina. Shows de música são prioridade para 40% das pessoas, enquanto atividades infantis foram apontadas por 38%.
O cinema também ocupa um espaço especial na memória dos entrevistados. Para 30% do levantamento total, o escurinho das salas de exibição foi o que mais despertou saudade na pandemia. Outros 24% se ressentiram mais pela ausência de shows, enquanto 7% sentiram muita falta das bibliotecas.
Para Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, o terceiro lugar dos espaços de leitura merece destaque.
— Há muitas bibliotecas que assumem um papel comunitário importante, se transformam em centros culturais para populações distantes dos grandes centros.
Distanciamento e higienização de ambientes são prioridades
A pesquisa também decifrou, entre todos os entrevistados, quais os protocolos de segurança devem ser prioritários nos espaços culturais durante a retomada. Na sondagem espontânea, os itens mais citados foram: distanciamento social (58%), uso obrigatório de máscara (55%) e disponibilização de álcool gel (53%).
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Já na pesquisa estimulada, na qual o entrevistado foi submetido à escolha de itens específicos de protocolo, 34% apontaram a limpeza e higienização constante dos ambientes como protocolo mais importante a ser seguido pelas instituições. Encontrar a arquitetura do espaço cultural remodelada (entradas e saídas adaptadas para que o público não aglomere ou se cruze; maior espaçamento dos bancos; acrílico para proteção em áreas de atendimento) é relevante para 19%. Disponibilizar horários agendados é apontado como primordial por 14%. Ter funcionários treinados para orientar o público, por sua vez, é fator crítico para 11% dos entrevistados.
Nível de insegurança ainda é alto
As adaptações anunciadas pelos espaços culturais para a retomada parecem ainda insuficientes para consolidar uma relação maior de confiança com o público.
Mesmo entre aqueles que querem retomar a vida cultural agora, é alta a porcentagem dos que não se sentem seguros com este retorno: 46%. Eles retomariam, mas preocupados. Os outros 54% demonstram segurança diante de uma volta aos espaços culturais de acordo com os protocolos sanitários.
Quando o assunto é vacina, 17% de todos os entrevistados dizem que se sentiriam realmente seguros apenas após a sua chegada.
Entre os homens que pretendem retomar agora suas atividades, 63% se sentem seguros. Entre as mulheres, a taxa cai para 47%.
No recorte de classes sociais, as classes D/E se mostram mais inseguras para o retorno às atividades culturais. São 43% de entrevistados neste estrato que se sentem seguros neste momento. O índice sobe para 54% nas classes A/B e chega a 61% na classe C.
Desigualdade social e cultural
Apesar de mostrar que 92% dos entrevistados já fizeram alguma atividade cultural ao longo da vida, a pesquisa revelou que 48% das pessoas não frequentaram espaços culturais nos últimos 12 meses.
Tal fenômeno afeta especialmente os indivíduos mais velhos, de 45 a 65 anos. Desses, 63% não desfrutaram de atividades culturais neste intervalo. Quando o recorte é feito por classes sociais, o abismo é visível. Nas camadas D/E, o índice é de 71%, enquanto, nas classes A/B, ele cai para 24%.
A escolaridade também influi no acesso: 73% dos indivíduos com formação restrita ao ensino fundamental não participaram de atividades culturais nos últimos 12 meses. Entre os que têm ensino superior, essa taxa cai para 18%.