Reunião com convidados: apresentação do Tate Institute
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Sonhando em grupo: esse foi o tom da conversa entre Toby Jackson e agentes do sistema da arte convidados pelos organizadores da Jornada Toby Jackson, um encerramento que abre outras perspectivas de aplicação das idéias discutidas durante o seminário “Educação e Arte: a Experiência da Tate Modern” e a mesa-redonda “O Museu de Arte e seus Públicos”, eventos que integraram a jornada que aconteceu em São Paulo no final de 2005.
Trabalho educativo? Não, Toby prefere outros títulos para seu departamento na Tate Modern, ainda que o termo conste no nome oficial de seu grupo de trabalho: Education and Interpretation Department. Mais do que educar, Toby deseja engajar e depertar nos visitantes de museus de arte essa inexplicável obsessão que é a paixão pela arte.
Nessa atmosfera de cumplicidade com colegas brasileiros que sofrem da mesma paixão, Toby apresentou um ambicioso projeto, ainda em fase de planejamento: o Tate Institute. A crítica de Toby a definições estanques para certas atuações no campo da arte explica o anamorfismo desse novo centro de pesquisa que integrará a holding Tate Gallery: o Tate Institute não será mais um curso de museologia, nem um serviço educativo, tampouco um departamento de cursos da Tate, mas um novo tipo de espaço que objetiva a integração dessas atividades num único organismo, ao redor de investigações sobre “museus de arte e seus públicos”.
Apesar de pressupor um trabalho em rede com colaboradores de todo o mundo, e portanto exigir conexões virtuais entre seus parceiros, o Tate Institute ocupará um prédio físico, em Londres, que sediará palestras, um centro de publicações, cursos para adultos, intercâmbios com profissionais de outros países, e acima de tudo um espaço para encontro de profissionais como curadores, arte-educadores, cientistas sociais e outros profissionais que possuem afinidades com o mundo da arte.
São tópicos da agenda do Tate Institute a pesquisa sobre razões que levam as pessoas a visitar museus, as diferentes experiências que um visitante de museu vivencia de acordo com os tipos de mediação a que é exposto (o impacto de mediações tecnológicas, por exemplo, é uma curiosidade de Toby já manifestada na palestra daquele mesmo dia na parte da manhã), o desenho do espaço expositivo, relações do museu com comunidades locais, e a crítica a políticas culturais. Imaginemos, inspirados pelas propostas de Toby, o benefício que seria para a cultura brasileira reunir num só local todas as discussões que hoje estão espalhadas por artigos de jornais sobre as leis de incentivo a cultura.
O Tate Institute ofereceria também programas de residência em universidades, assim como – e esse é um aspecto complexo do projeto – consultorias para museus de outros países. Mas como seria esse serviço de consultoria externa sem o conhecimento do contexto local? É aqui que a importância das parcerias internacionais fica explícita: o Tate Institute teria que trabalhar em sintonia com profissionais locais.
De certa forma, o espaço de troca de idéias sobre o museu vislumbrado por Toby no projeto do Tate Institute concretizou-se durante as duas horas em que cerca de 20 pessoas escutaram e sonharam junto com Toby na biblioteca do British Council em S. Paulo.
Renata Bittencourt, do Itaú Cultural, apontou a fluidez do projeto de Toby que constrói um mosaico de referências e disciplinas sem a rigidez dos programas acadêmicos. Vera Barros, que por vários anos conduziu o bem-sucedido programa de arte-educação do MAM-SP, apresentou sua proposta de um “museu vazio”, um museu como laboratório de pensamento, proposta alinhada às idéias de Toby para o Tate Institute. Sthephen Rimmer, do British Council, lembrou que a idéia de um “museu vazio” não é inusitada no Brasil, onde poucas instituições realmente possuem um acervo. Inês Raphaelian, nova diretora da divisão de artes plásticas do Centro Cultural S. Paulo, ressaltou essa característica híbrida entre kunsthalle e biblioteca do CCSP, e Gilson Packer, da Ação Cultural do SESC-SP descreveu alguns de seus elogiados programas nas unidades do SESC. A confusão entre ação cultural e assisitencialismo, que esteve bastante presente na palestra do dia anterior através da fala de Milú Vilela, foi apontada e criticada por Stella Barbieri, do Instituto Tomie Ohtake.
A discussão parecia caminhar para a conclusão de que já temos no Brasil iniciativas que propõem um “novo museu” – até mesmo porque na precariedade material de nosso país reinventar conceitos é uma necessidade. Retomando então a delicada questão da “consultoria” da Tate para instituições de arte de outros países, Ana Maria Tavares ressaltou que a cooperação dos profissionais brasileiros no projeto da Tate depende muito da adequada valorização dos pontos fortes dessa cultura do precário, que gera ambientes de exposição tão interessantes quanto os SESCs e o CCSP.
Uma característica indesejável da cultura do precário – a descontinuidade de qualquer programa, seja cultural ou político no Brasil – foi ressaltada por Ligia Nobre, da EXO Experimental. Como dar prosseguimento a iniciativas bem sucedidas? Talvez a ação agregadora de projetos como o Tate Institute, ao criar liames entre várias instituições culturais de um país, garanta também a continuidade.
A presença de Toby no Brasil foi o primeiro passo para o estabelecimento desses liames: muitos profissionais encontraram-se pessoalmente pela primeira vez durante esse seminário e voltam para suas instituições ligados pela idéia de uma arte-educação propositiva e ambiciosa.
(Paula Braga)