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Mediação e interpretação de exposições, por Carmen Aranha

Carmen Aranha é Docente da Divisão Técnico Científica de Educação e Arte do MAC/USP. texto apresentado no dia 01/12/2005, na Pinacoteca do Estado.

Apresentação

Programa

Documentação

Seminário Educação e arte Seminário Educação e arte (texto)


Mediação e interpretação de exposições

Carmen S. G. Aranha1

A idéia de mediação e interpretação de exposições, entre outras possibilidades, abarca uma reflexão sobre os significados culturais que aí são veiculados. As obras, modernas ou contemporâneas, não são auto-explicativas e uma primeira questão surge com esse processo – o que oferecer ao visitante como uma interação cultural de fato, já que ele próprio traz seu sistema de informação.

Jameson2 reflete sobre o fato de que, na contemporaneidade, “diante da obra de arte, as pessoas só percebem uma realidade superficial, não podendo alcançar um referente que esteja em sua profundidade”. O autor aponta que, hoje, há um esvaziamento das referências culturais, mesmo em experiências diretas como é o caso de uma visita ao museu. Afirma que as origens das “forças que mobilizam a sociedade” estão dispersas nas inúmeras informações veiculadas e na própria noção de trabalho que, gradativamente, vem retirando o sentido da cultura de qualquer gesto gerado. Essa perda de referências culturais também é o tema de Beatriz Sarlo3. Sua reflexão sobre a ausência da intensidade da imagem na sociedade contemporânea nos ilumina em relação à compreensão de certas estruturas de pensamento transmitidas numa parceria educador e público visitante de museus. Sarlo afirma que as imagens, hoje veiculadas, não mais criam interrogações. Pelo contrário, “a imagem não provoca espanto nem interesse, não resulta misteriosa nem particularmente transparente”. As imagens sucedem-se velozmente diante de nós, na cidade, na mídia, nos eventos ditos culturais estes também passageiros. Nessas passagens vertiginosas, nossa própria compreensão, como diz a autora, não está aparelhada para essa veloz e dupla decodificação de áudio e vídeo e, assim, todo o sistema imagético passa a perder o significado. A sociedade veicula imagens, mas imagens sem intensidade.

Quando oferecemos reflexões sobre a cultura via exposições de arte, essas colocações nos permitem afirmar, em primeiro lugar, que os recortes curatoriais devem ser concepções da realidade tornadas visíveis. E, para veiculação de significados culturais, a integração das idéias contidas nas questões da museologia, da museografia com os processos mediadores constitui outro passo essencial. Junto a isso, os textos e subtextos devem ser trazidos numa rede de compreensões, contextos definidos, criatividade e inteligência4 no sentido de iluminar as obras e não submergi-las em dimensões obscuras.

Qualquer discurso proclamado no meio das exposições deveria nascer entre todos esses elementos porque não existe apenas um personagem no cenário interpretativo e mediador. O mundo de objetos estéticos não comporta mais a ciência de sobrevôo5 e o pesquisador da área não domina o conhecimento das coisas com voz uníssona. Habitar o mundo para retirar seus significados6, a poíesis7 é a principal questão da diversidade cultural na qual hoje estamos imersos.


1 Museu de Arte Contemporânea – USP.

2 JAMESON, Fredric. Modernidade Singular. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2004.

3 SARLO, Beatriz. Cenas da Vida Pós-moderna. Intelectuais, arte e videocultura na Argentina. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2004.

4 MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, Brasília: UNESCO, 2000.

5 MERLEAU-PONTY, M. O Olho e o Espírito. São Paulo: Ed. Abril, 1980.

6 Idem, pp. 88-93.

7 MARTINS, Joel. Um enfoque fenomenológico do currículo: educação como poíesis. São Paulo: Cortez, 1992.