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Arco 2008 celebra o Brasil

Correio Braziliense - DF, Nahima Maciel, 11/01/2008

O destino de quem quiser conhecer o mais fresco da produção artística brasileira neste ano é Madri


Depois do livro em Frankfurt e da miscelânea cultural na França, agora é a vez das artes plásticas. O destino de quem quiser conhecer o mais fresco da produção artística brasileira neste ano é Madri. A partir de fevereiro, a capital espanhola recebe a edição da Arco 2008, a mais importante feira de arte européia ao lado da suíça Art Basel. O Brasil é o país convidado do grande mercado em que se transformará os 14 pavilhões do Centro de Convenções de Madri. Isso significa que, das 250 galerias que pagaram para montar estande na feira, 32 são brasileiras. E todos os eventos paralelos - na verdade, são eles que realmente interessam ao público em geral - vão apresentar artistas tupiniquins.

Feiras são lugares de comércio, perfeitas para fechar negócios. A lista de freqüentadores desses hipermercados de arte costuma ser preenchida por colecionadores e curadores de museus. Gente que tem poder de compra. As galerias pagam caro pela vitrine e querem, evidentemente, recuperar o investimento com boas vendas. Mas é na programação paralela que se fala e reflete sobre arte. E, até agora, o Ministério da Cultura e a Fundação Athos Bulcão, parceira oficial do governo brasileiro na organização do calendário da Arco, confirmaram cinco eventos.

Uma comissão formada por representantes das duas instituições desembarcou nesta semana em Madri para o lançamento oficial da presença brasileira na feira. “Esses eventos aliam discussão conceitual à viabilidade de mercado. Serão 165 artistas participando”, explica Glauber Coradesqui, coordenador de pesquisa e projeto da Fundação Athos Bulcão. A primeira parada será o Alcalá 31, centro cultural preparado para receber Contraditório, mostra do 30º Panorama da arte brasileira encerrado em São Paulo na última semana.

Latência e sensibilidade

O Brasil é país vasto no qual cabe todo tipo de reflexão contraditória. A diversidade cultural é espelhada pela produção artística e abre espaço para expressões que parecem revelar cenários opostos, mas que falam de um único território e uma única gente. Por isso, Contraditório pode funcionar como boa introdução ao cenário artístico nacional em terras estrangeiras. “Há um interesse muito grande por arte brasileira no exterior e a mostra propõe discutir o sentido de se falar em arte brasileira hoje num cenário globalizado”, explica Moacir dos Anjos, curador do Panorama e de uma das mostras da 6ª Bienal do Mercosul, realizada em 2007. “A curadoria combinou obras que demonstram a sensibilidade do artista brasileiro e obras que expressam o estado de latência da sociedade. Questões como repetição e imobilismo aparecem nas obras e refletem o estado de espírito brasileiro.”

O Panorama tem um total de 29 artistas e vai ganhar montagem integral em Madri. O detalhe animou mais o brasiliense Milton Marques do que o fato de eventualmente participar da feira por meio da paulistana Galeria Leme, que o representa. “Feira é uma coisa muito comercial e a intenção é essa mesmo. A galeria negocia, mas eu fico um pouco de fora. É a primeira vez que vou participar e é um esquema muito diferente do que costumo fazer. Até o público é diferente”, constata Marques, autor de uma instalação sem título montada com câmera artesanal que projeta fragmentos de imagens.

A programação paralela terá também shows com as bandas Cidadão Instigado e Kassin + 2 e intervenções urbanas de Lúcia Koch e Marcelo Cidade. O El matadero, antigo matadouro transformado em espaço cultural, será ocupado pela artista Fernanda Gomes e receberá o coletivo Gia, para uma residência artística. Mostras de filmes brasileiros e performances também estão programadas para os cinco dias da Arco.

Renovação

Matheus Rocha Pitta

A instalação Títulos, concebida para o Panorama, é comentário sobre o descaso das instituições oficiais para com a cultura. Matheus reuniu rolos de filmes deteriorados do acervo do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. A cinemateca da instituição foi ameaçada de fechamento no ano passado, por causa da má conservação do acervo. Rocha Pitta nasceu em Minas Gerais e tem 27 anos. Radicado no Rio de Janeiro, é um dos nomes mais premiados da geração carioca de jovens artistas.

Rivane Neuenschwander

A comunicação é o alvo do trabalho de Rivane. Dispostas lado a lado em escrivaninhas, sete máquinas de escrever servem de metáfora para falar da falta de comunicação. No lugar das letras, apenas pontos finais. Os números foram mantidos e o público pode se aventurar a “escrever” com as máquinas da artista. No entanto, não há texto possível. Intitulado (…), 2004, o trabalho foi apresentado na Bienal de Veneza e retoma temática freqüente na obra da artista mineira.

Lucia Laguna

A pintura contemporânea brasileira também encontra refúgio no Panorama. Carioca que começou a pintar depois dos 40 anos, Lucia Laguna observa o Rio da janela do ateliê instalado em frente ao Morro da Mangueira. Desse olhar, saem as pinturas de traço geométrico desordenado como os tetos das casas das favelas. As pinturas de Lucia estiveram em Brasília na mostra Prêmio CNI-Sesi Marcantonio Vilaça para Artes Plásticas e ainda podem ser apreciadas na mostra Trópicos, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).