Museus etnográficos e suas problemáticas
A professora Márcia Rosato, do Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR (MAE UFPR), iniciou a apresentação falando sobre sua experiência prática frente ao museu universitário. Apontou que os museus universitários apresentam características particulares diferenciadas dos demais museus temáticos. Uma delas é o desafio, enquanto instituição, de articular a pesquisa, o ensino e a extensão.
Cabe aos museus universitários não apenas produzir conhecimento, mas, com base na pesquisa das coleções, os mesmos têm o objetivo de preparar profissionais e conectá-los à sociedade - decodificar o conhecimento do museu universitário para a comunidade.
Para ela, a tipologia dos museus indígenas, anteriormente relatada pelo prof. Bessa Freire, quanto à classificação dos museus etnográficos, se resume em: sobre, para e com os índios. Relatou que no MAE a gestão do grupo da universidade tem a compreensão sobre a transversalidade do museu, tema muito debatido neste fórum, ser uma diretriz de trabalho da UFPR.
Ainda segundo a professora Márcia, as coleções devem ser revisitadas e deve haver sempre uma nova dinâmica quanto à apresentação e interpretação sobre elas. O fato de o museu universitário ter problemas o ponto de vista institucional (como, por exemplo, a ausência de aporte financeiro) representa um desafio para a formação dos alunos e para o futuro das coleções. Esta, para ela, é uma situação nacional de difícil resolução e faz com que a universidade seja obrigada a buscar parcerias externas para sustentar as ações do museu.
O museu foi fundado em 1962 com a seguinte nomenclatura: MAAP - Museu de Antroplogia e Artes Populares. Foi instalado em uma edificação jesuíta e os protagonistas desse processo foram Loureiro Fernandes, catedrático de antropologia da UFPR e Rodrigo de Mello Franco.
A perspectiva e o acervo do museu tinha como base a linha de pesquisa dos antigos catedráticos de antropologia, que tinham interesse predominantemente em estudos de arqueologia e antropologia fisica (ergologia) e os estudos das artes poulares. As primeiras exposições valorizaram a tecnologia. O museu tinha como estratégia de pesquisa agregar pesquisadores prestigiados como a famosa arqueologa Anette Empaire, Baldus, do Museu Paulista, nas pesquisas das populações litorâneas Charles Wagley. Nas artes polulares, Loreiro contou com a comissão regional do folcore.
Nos anos 90, o museu migrou para a perspectiva da ideia da valorização regional, com a temática voltada para o “homem do litoral”. Já em 2000, a perspectiva é de um museu dinâmico. Passou por uma reestruturação e a aproximação e transversalidade interna, citada acima, passou a ser uma linha de atuação da equipe. Passou a ser chamado de MAE UFPR. Com esta nova estruturação multi-realizada, a administração passou a ficar em Paranaguá, no Colégio Jesuíta, com 2000m². A reserva técnica fica no campus Juvevê, com 350m² e o espaço didático expositivo foi situado no prédio histórico da UFPR, em Curitiba, com uma sala de 180m².
Hoje a missão do MAE UFPR é tornar-se um espaço de referência como museu universitário e articular o ensino à pesquisa e à extensão. As estratégias de gestão do MAE são reinserir efetivamente o museu na agenda institucional e acadêmica e manter a curadoria e as coleções com ações ideológicas na transversalidade acadêmica. Sobre este ponto, Márcia Rosato, citou a multipluralidade quanto à execução de tudo, onde até mesmo os alunos estão inseridos - deu como exemplo os móveis do museu, projetados pelos alunos do curso de design – existindo, então, uma reconfiguração no instrumento de gestão, efetivando um quadro técnico e de pesquisa mais abrangentes nas áreas de atuação do museu, projetando e realizando, na área de museologia e difusão cultural, uma discussão na elaboração de ferramentas facilitadoras.
Foi criado um banco de dados, e feitos importantes investimentos nas ações educativas de forma mais abrangente, com novas exposições de longa duração. Com auxilio da professora Marilia Cury do MAE USP, um programa estratégico de revitalização e restauro do MAE-UFPR foi executado. Segundo a professora Márcia, estas foram as etapas: foi feito um projeto de restauro com adequação de uma reserva técnica, o material foi transferido para Curitiba, no campus Juvevê e aumentaram o quadro de funcionários contratando pessoal.
O projeto que foi aprovado pela Lei Rouanet teve um valor de investimento de R$ 157 mil em 2002. Já em 2006, o museu teve um apoio integral da Petrobras e, em 2005, com projeto aprovado pelo IPHAN, bem como autorização para captação de novos recursos, o valor investido foi de R$ R$ 2.918.306,68, servindo também para outras obras de restauro. A reserva técnica foi totalmente projetada por dois técnicos especializados na área. Em Curitiba a reserva foi inaugurada em abril de 2006.
Em 2004, foi elaborado e enviado, para um edital nacional, um projeto do mobiliário da reserva técnica e controle ambienta, aprovado na íntegra. Em 2009, o quadro de pessoal era composto por dois técnicos de nível superior e um de nível médio em Curitiba e, em Paranaguá, por três técnicos de nível médio. Já em 2010, os técnicos de nível superior eram uma antropóloga, Dra Docente; um arqueólogo, Dr. Docente; uma museóloga, um arquivista, uma psicóloga social, uma bióloga, um programador cultural e três técnicos em administração. No momento, estão tentando recursos para execução de exposições de longa duração e uma maior articulação dos cursos de pós-graduação.
No momento de debate junto ao público, um dos participantes levantou uma questão polêmica sobre a extinção dos índios Xetá, informação citada pela professora Márcia. Ela quis dizer que estavam extintos enquanto grupo, mas que, na verdade, existem alguns poucos da geração do mato, chamados por ela de remanescentes. Ou seja, duas ou três pessoas apenas estão vivas, em processo de reconhecimento étnico e também fundiário.
A segunda questão foi sobre o desaparecimento dos antropólogos nos museus, se os problemas com relação à formação dos antropólogos a partir dos anos 70 prejudicaram os museus. Márcia afirmou que hoje há uma retomada dos antropólogos na procura dos museus, porém com novos paradigmas, com uma ação mais abrangente e com profissionais de outras áreas. Ela apontou o museu como um espaço não acadêmico, ou seja, que permite que um diálogo mais amplo seja discutido. Diferentemente do passado, com a perda da consciência cultural, hoje a curadoria compartilhada é a possibilidade de crescimento e chance para as gerações mais novas.
Outra questão foi levantada sobre os Xetá, sobre pesquisas antigas de extrema importância que foram publicadas por Tom Muller. Teria a professora conhecimento sobre estes documentos? O museu tem este material disponível? Existem peças de arqueologia no acervo acervo Xetá?
Márcia responde que, sim, eles têm os documentos sobre os registros do material Litico (ferramenta feita de pedra lascada ou polida) e outros, porém, de outro pesquisador, Vladimir Kozák (documentarista documentarista que atuou junto ao MAE, que foi acompanhado pela arqueóloga Anette Empaire). Muitas pesquisas foram feitas junto aos Xetá, no entanto, o material do Tom Muller o museu não possui. Segundo a pessoa que fez a pergunta esse material está no Rio Grande do Norte, porém não houve tempo de fazer a etnografia do povo Xetá. A professora Márcia disse que existe um projeto de montar um catálogo sobre os Xetá, com o envolvimento de vários pesquisadores do MAE UFPR.