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Relato crítico – Palestra “Planejamento estratégico”

por Sofia Gonçalez

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Relato crítico por Sofia Gonçalez

1º Encontro Paulista de Museus – 2009

Palestrante: Ronaldo Bianchi

 

De início, é importante ressaltar que este relato foi produzido em março de 2021, quase doze anos após a realização da palestra, proferida por Ronaldo Bianchi no 1º Encontro Paulista de Museus.

O então Secretário Adjunto da Cultura construiu uma palestra com forte caráter de oralidade, ou seja, não seguiu uma estrutura rígida e deu um tom bastante pessoal à sua fala.

Bianchi inicia apontando algumas barreiras para a construção de um bom museu: orçamento, reconhecimento da importância e situação de tombamento de alguns edifícios que abrigam museus.

O palestrante constrói, ainda que de forma não linear, uma espécie de lista de aspectos importantes, em diferentes medidas, para a estruturação do que compreende como um “grande museu”.

Primeiro, destaca a importância de um acervo coerente com a missão da instituição. Neste aspecto, ressalta o papel da estruturação de uma grade expositiva que apresente a coleção do museu e/ou de empréstimos, mas sempre de forma dinâmica, porque a prioridade é oferecer ao público uma sensação de constantes novidades a serem vistas. As exposições devem ser desafiadoras, gratificantes e coerentes com a missão e o acervo do museu.

Outro aspecto abordado em dois momentos da comunicação foi a importância conferida aos edifícios. Num primeiro momento, relata o caso do Museu de Arte Contemporânea da USP, naquele momento em processo de ocupação do edifício do antigo Detran, projetado por Oscar Niemeyer e tombado em diferentes esferas. O projeto de restauração para a ocupação pelo museu teria sido feito pelo próprio arquiteto, mas não aprovado pelos órgãos de patrimônio, por descaracterizar o desenho original da edificação.

Bianchi demonstra entender essa negativa como uma incoerência, o que nos leva a interpretar que sua compreensão de patrimônio é marcada por um viés personalista, que entende os bens como propriedade de seus idealizadores, e não da sociedade. De qualquer forma, o palestrante afirma que nenhum dos agentes envolvidos estava errado, apenas agiam segundo diferentes critérios e, assim, construiu-se uma barreira ao andamento do projeto.

Em outro momento, defende que os museus precisam ser transformadores e emocionantes, e a primeira emoção que um museu deve causar é a gerada pela beleza estética de seu edifício. Mais à frente, aborda a inibição que as instituições museológicas provocam em alguns públicos e aponta para a necessidade de quebrar esta barreira. Não relaciona, entretanto, a monumentalidade de alguns edifícios que abrigam museus a essa inibição, nem aponta caminhos para essa quebra de barreiras.

Ainda sobre o tema da necessidade de provocar emoções, coloca a tecnologia como recurso imprescindível para os museus contemporâneos.

Prosseguindo com a listagem de aspectos importantes, Bianchi coloca a gestão, abordada sobretudo no aspecto da gestão de pessoas. Para o então secretário, todo museu deve possuir um conselho, deliberativo ou consultivo, composto por “lideranças” sociais, promovendo, assim, uma “invasão” da sociedade civil à estrutura da instituição. Esta articulação com estes líderes seria imprescindível para que o museu fosse querido e visitado pela população local.

Procurando definir estas lideranças, refere-se a eles como “campeões”, “empreendedores”, pessoas que “dão exemplo” e “não desistem”. Dá exemplos do passado e do presente: Ciccilio Matarazzo, Assis Chateaubriand e Emanoel Araújo. Segundo ele, estes “gênios” precisam ser acolhidos e provocados pelos gestores, que devem assumir o papel de fazer as coisas acontecerem.

Ainda no aspecto da gestão, Ronaldo Bianchi apresenta o “museu branca de neve”, ou seja, aquele em que “só tem uma pessoa, o resto é tudo anão”. Este gestor que toma todas as decisões seria problemático, sendo necessário delegar e “deixar” as pessoas trabalharem. Em 2021, a metáfora empregada poderia causar indignação, por seu caráter capacitista, discriminatório e desumanizador das pessoas com nanismo. Em 2009, a plateia riu.

Outro problema na conduta do gestor “branca de neve” seria a não motivação de sua equipe. Bianchi destaca que motivação é importante, e se dá não apenas em termos de salário, mas também em oportunidades de estudo, acesso a material de leitura, bolsas, entre outros. Seria também papel do gestor colocar metas e desafios à equipe, para mantê-la motivada.

Ainda sobre o papel do gestor, o palestrante aconselha que seja montado um manual com todos os marcos legais sob os quais a instituição está submetida. O mesmo procedimento é recomendado para concentração dos procedimentos de todas as áreas do museu.

Já se encaminhando para o fim de sua fala, Ronaldo Bianchi aponta os aspectos que devem ser examinados por um gestor de museu. Essa opção chama a atenção, visto que o planejamento estratégico para museus se inicia, geralmente, pelo diagnóstico.

Na lista de aspectos a serem examinados, estão a missão e a visão do museu, ou seja, para que a instituição serve, onde quer chegar e quais são seus valores e propósitos. Em seguida a credibilidade junto ao governo, ao mercado e ao terceiro setor, e a transparência. Por fim, aponta a importância de avaliar a qualidade dos pontos que considera mais importantes: equipe, acervo, sistemas e governança.

Como vemos, apesar de sua posição no alto escalão da gestão cultural estadual e o título da comunicação, Bianchi fez uma fala pouco técnica e bastante generalizante. Talvez, aos ouvintes de 2009 os ecos tenham sido mais impactantes do que os provocados em 2021.