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Relato crítico – Avaliação de públicos de museus: um cenário paulista

Por Chibueze Brito Obi

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Relato por Chibueze Brito Obi

O relato a seguir refere-se à participação da pesquisadora Luciana Sepulveda, que é licenciada em educação artística pela PUC – RJ é mestre e doutora em museologia pelo Museu Natural de Paris.

Ocupando o cargo de diretoria na frente de pesquisa do Observatório de Museus da Fundação Fiocruz, a autora apresenta seu discurso sobre os objetivos, convicções, constatações e resultados de sua pesquisa sobre o cenário paulista e nacional das instituições museológicas e a importância das avaliações dos públicos para esses espaços na mesa do primeiro Encontro Paulista de Museus no ano de 2009. Luciana inicia sua fala evocando que não existe museu sem público ou sem sua representação, a fim de compartilhar a reflexão que no imaginário construtivo de uma exposição, o público sempre fez parte dessa estruturação, mesmo por óticas, recortes e áreas diferentes - em coleções privativas, gabinetes de curiosidades antes mesmo de se solidar como um espaço público-.

Aprofundando-se sobre o assunto, a autora faz um levante significativo sobre o questionamento do porquê tal pesquisa foi feita pela Fundação Oswaldo Cruz, uma instituição de pesquisa e produção de insumos para saúde. Luciana responde partindo do argumento que os museus são espaços de expressão da cultura e educação partilhada, onde o exercício da escuta de sua própria comunidade é um recurso para o fim e análise dos desejos e das necessidades de grupos em um devido momento histórico como situação/ação possível, traçando um exemplo da relação entre saúde e cultura. Define então que a concepção do Observatório de Museus surge como um projeto de pesquisa interinstitucional, a fim de mapear o entendimento sobre se os museus são socialmente apropriados, tendo como cerne as interações com grupos, alimentação de bancos de dados entre museus e malhas culturais em um protocolo composto e compartilhado. Pois assim como os museus, os públicos possuem suas particularidades.

Museus envolvem sociabilidade, logo como abranger os mais diferentes públicos em suas visitas? Tal questão é de interesse às instituições museológicas tal qual aos pesquisadores. A partir desse questionamento deu-se a criação de uma ferramenta de escuta do público e gestão para mapear, criar, acompanhar as tendências e relações com seus públicos e paralelamente entre museus a fim de ampliar debates sobre planos de ação: o Observatório de Museus e Centros Culturais (OMCC). Até o momento do encontro, 35 museus participaram do protocolo de aplicação, entre eles situados em cidades como São Paulo - com o apoio da unidade de patrimônio museológico -, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo.

A autora reforça que a pesquisa tem como objetivo entender os processos e os contextos que fazem as pessoas visitarem os museus, conhecê-los em suas modalidades, os motivos e percepção do serviço ofertado com intuito de contribuir para uma reflexão sobre como a diversidade dos diferentes segmentos sociais podem construir e reconstruir sua relação com os museus ora para o presente e para o futuro, a fim de replicar esse modelo de pesquisa para reforço, mudança e/ou esclarecimentos para as tomadas decisão no cotidiano das instituições, promovendo um âmbito formativo de um relatório partilhado e ampliado para a condução de atividades. Luciana questiona entre outros assuntos, o modus operandi atual das instituições quanto a questão exploratória dos museus e defende para que esses estudos sejam multidisciplinares para o não esquecimento, engavetamento ou apagamento desses dados, pois são parte importante para grandes escolhas e direcionamentos. Conduzindo-se pela base elementar do questionamento sobre os públicos dos museus, Luciana apresentou suas questões exploratórias, tais como: Quem visita os museus? Quais indivíduos constituem um grupo heterogêneo? Quais são os perfis, sociedades demográficas e culturais? São semelhantes ou diferentes? Em quais pontos são iguais e quais pontos se diferem? Determinado museu evoca um certo tipo de visita? Todas as indagações apontadas pela autora maturam questões sobre como de fato o museu é apropriado, analisando seu papel como ator político lato-sensu, seus valores e sua vocação legítima no papel da sociedade. E ancorada a esses questionamentos, reitera que é uma pesquisa de práticas efetivas e reais baseada em entrevistas com visitantes dentro dos museus.

Diante aos resultados apresentados é importante ressaltar que as respostas são de público espontâneo, ou seja, foi desconsiderado o contingente de visita escolar, portando assim como objeto analítico, pessoas com idade inicial de 15 anos, dados gerais de bilheteria, grupos de turismo e associações, lidando com apontamentos importantes e complementares para o mapeamento informativo para que esse estudo quantitativo seja auto aplicado e de seleção aleatória aos visitantes, sem vieses e de forma periódica. O escopo decisivo da pesquisa foi ao enfoque das experiências que os visitantes teriam nas diversas programações das instituições, pautadas em diferentes significados, particularidades, contextos pessoais e sociais. No estado de São Paulo a autora destaca experimentações em museus como MAM (em dois momentos distintos), Museu da Língua Portuguesa, MIS (2007) entre outros. Complementa e constata que os públicos não são homogêneos em sua gama e que tais resoluções a seguir são os primeiros de muitos passos para inúmeros questionamentos subsequentes e criações de ações político-inclusivas de novos públicos aos museus, além das análises de frequência que são constantemente redimensionadas. Nos 13 museus pesquisados na cidade de São Paulo foi apurado que o público foi majoritariamente feminino e numericamente maior ao número total de pesquisados no Rio de Janeiro. Utilizando o Museu do Futebol como exemplo, Luciana aponta que temáticas e/ou programações relacionadas outrora a um gênero influencia também na variedade do público nos museus, dado a amostra, onde o número de visitantes do sexo masculino foi superior ao de público feminino.

Em síntese a sua pesquisa, a classe modal constituiu-se no detalhamento da faixa etária de 40 a 45 anos, nota-se também a ausência de público seniores, por outro lado a faixa de 15 a 29 agregados a categoria universitária seguem presentes nessa distribuição quantitativa. Sobre o estado civil, a maioria dos visitantes são solteiros, com renda de até 2 mil reais, onde 73% do total exerce atividade remunerada. Quanto à escolaridade, mais de 50% dos entrevistados do conjunto numérico possuem ensino superior ou mais, fato que contrapõe e destoa com o contexto atual e social da população do estado. Para fim comparativo, na cidade de São Paulo constata-se que 11% possuem níveis superior ao da graduação e ocupam 46% nos museus, inversamente com a porcentagem de 40%, pessoas com 15 anos ou mais e de nível fundamental completo, ocupam apenas 5% de frequência nos museus. Em sua fala conclusiva, a autora revisita a importância de estudos como esses para o benefício das instituições museais e para a sua longevidade. Escutar e analisar, para que a partir dessa prática seja possível fidelizar e diversificar o público visitante além da criação e execução de práticas de sociabilidade e de representação. A recolha de reflexões de necessidades para definirmos políticas e ações para o reforço de uma cultura permanente institucionalmente, que leve em conta a multidisciplinaridade, capacitações, subsídios de gestões públicas e metodologias variadas em pesquisas compartilhadas para profissionais da área museológica, gestores, sociedade e áreas afins.

Luciana arremata que a importância desses estudos comparativos nos faz perceber que o perfil-forma de cada visitante tem a ver com o perfil da instituição. É percebido que cada local tem como margem e desejo, estabelecer a construção de novas relações possíveis com seus públicos visitantes ou até mesmo diversificar a comunidade que ali adentrou e ter como residual o saber de como museu é percebido diante a sociedade, quais ações atrativas podem ser feitas e principalmente, como equilibrar a tríade da atratividade, fidelidade e inovação. Criar políticas públicas inclusivas podem ampliar, estimular a reflexão sobre o papel dos museus e centros culturais no desenvolvimento econômico e social.

O assunto abordado pela autora convoca uma série de questionamentos importantes sobre analisamos o papel da pesquisa de público para a diversidade nas programações ou até mesmo sobre o papel da instituição a função da sociedade como local ativo de atividades, produção de conteúdo e debates, que por muitas vezes são desconhecidos por parte da população, ora devido a sua pouca divulgação. Existe a necessidade de políticas mais amplas que amparem a cultura material, formativa e diversificada, necessidade de estreitar diálogos multidisciplinares para a riqueza do ciclo curatorial, acervos e o estabelecimento de maneiras transdisciplinares e interdisciplinares para que tais resultados transpareçam nas movimentações e alterem para melhor as realidades dos museus. Que tenhamos ferramentas de análise para essa movimentação a fim de compartilhar tais questões expositivas para a fortaleza dessas instituições e é claro, a sua sobrevivência e liberdade mesmo sob um desgoverno distópico e em tempos pandêmicos. O museu é um ponto de encontro, dialógico, onde a necessidade de criar-se representações culturais de pertencimentos, protagonismos e familiaridades se fazem ativos a partir do conhecimento de seu público atuante e por ora não atuante também para fins atrativos, pois os museus não se resumem às áreas expositivas, são uma interface para o conhecimento, inovação e oportunidades.