Relato Crítico - MOSAICOS – EPM2020
Daniele Zacarão
Durante o 11º Encontro Paulista de Museus uma série de relatos em vídeos foram enviados por profissionais de museus, pesquisadores, estudantes e interessados de diferentes cidades do estado de São Paulo. São múltiplas vozes, rostos e opiniões que responderam às questões lançadas pelo evento, compondo assim os quatro MOSAICOS do EPM2020.
Este relato se configura como um texto-mosaico, compilando fragmentos das falas de alguns dos 46 participantes, na tentativa de responder às seguintes perguntas:
>>> Os museus são neutros?
Uma afirmação ecoa o primeiro mosaico: Os museus não são neutros! A maneira como um museu expõe o seu acervo ou constrói sua programação cultural, diz muito sobre como a instituição vê a sociedade em que vive. Os museus fazem escolhas todos os dias. Não há uma única maneira de contar uma história. Assim, os museus são lugares de construção e desconstrução de memórias e identidades. Sua vocação é a antítese da neutralidade. São espaços de reflexão e transformação social, e, por isso, devem se posicionar firmemente a favor da liberdade de expressão e pensamento, e terem o compromisso com as necessidades que emanam da sociedade. Ao mesmo tempo, deve-se buscar a neutralidade para contemplar a diversidade e a pluralidade da cultura. Neste sentido, a atuação dos setores educativos das instituições torna-se o lugar com maior potencialidade para se pensar sobre essa não neutralidade dos museus. Museu é político.[1]
>>> O que você espera encontrar nos museus hoje?
Inclusão social, pluralidade, diversidade, ações de sustentabilidade... desejos que reverberaram neste segundo mosaico. Espaços para o diálogo. Acolhimento e acessibilidade a todos. Experiências que nos façam conhecer a história, sua pluralidade e diversidade. Espaços de reflexões, onde suas comunidades possam pensar quem são, onde estão e projetar os seus futuros. Tomada de consciência e iniciativa para ação. Revisão contínua de processos e integração constante do museu no ecossistema em que ele se encontra. Pessoas fazem as instituições! O museu só tem relevância se estiver a serviço da sociedade.[2]
>>> Museu pra quê?
O terceiro mosaico nos permite pensar no museu para além da preservação da história e memória. Os museus nos ajudam a ampliar nossas percepções de mundo, através do olhar diferente, do olhar do outro. Reconhecer o passado, avaliar o presente e agir para o futuro. Museus para pensar sobre o mundo em que vivemos. Gerar conhecimento e criar laços com a comunidade. Encontrar-se, descobrir-se. Comunicar por meio dos sentidos. Conhecimento, lazer e diversão. Museus são lugares de experiências significativas e únicas, transformadoras em suas ações sociais, educacionais e ambientais. Museus para transformar a vida das pessoas. Museus para celebrar a vida.[3]
>>> O museu que eu quero...
É acessível, inclusivo, participativo e democrático... assim se desenha o ideal de museu em muitas das falas do quarto mosaico. Um museu que acolhe a sociedade e é acolhido e respeitado. Estabelece relações democráticas, participativas e acessíveis com seus trabalhadores e público. Que tem uma imagem coerente internamente, que se projete para fora. É engajado na melhoria da qualidade de vida de seus públicos. Museus interativos, com uma nova visão de mundo. Museus cheio de oportunidade, criatividade, participação e cuidado, com uma gestão criadora de oportunidades para o público, profissionais e instituições. Um museu que preserve seu acervo e cumpra sua função social. Um museu democrático que respeita as diferenças.[4]
>>>
Os mosaicos apresentaram expectativas para o futuro dos museus, colaborando com as reflexões propostas pelo tema central do evento “Museu, sociedade e crise: do luto à luta”. Neste sentido, gostaria de retomar a fala de Luiz Mizukami, quando diz pessoas fazem as instituições, para reafirmar a vital relação entre museu e sociedade à superação das muitas crises enfrentadas. O processo pós pandemia ainda é incerto, no entanto algumas urgências já vinham sendo apontadas, como a necessidade de museus mais inclusivos, participativos e democráticos.
Precisamos pensar em um museu-rede, não apenas no sentido de conexão com a internet, mas uma instituição que promova de fato ligações com e entre seu público. Um museu que participa do seu tecido socioambiental e se constrói a partir dele. Um museu em constante movimento de fora pra dentro e de dentro pra fora. Um museu que não seja apenas um espaço para entrar, ver/ouvir e sair, mas que seja um lugar para estar/ser.
Um museu com capacidade para imaginar outras formas de ser museu.
>>> Museu como:
mosaico. antítese da neutralidade. escolhas. lugares de construção e desconstrução. pluralidade. diversidade. inclusão social. acolhimento. encontro. lazer e diversão. experiências significativas e únicas. conhecimento. comunidade. ecossistema. transformação. oportunidade.
[1] Fragmentos dos depoimentos de Silas Couto; Davidson Kaseker; Natália Ferreira; Marina Toledo; Luiz Palma; Amanda Tojal; Marina Morratto; Matheus Maia; Raissa Berleze; Vitor Molinari; Alessandra Baltazar.
[2]Fragmentos dos depoimentos de Luiz Mizukami; Luis Otávio; Diego Grola; Zoraide Grassi; Leonardo Furukawa; Otávio Balaguer; Lilian Budaibes.
[3] Fragmentos dos depoimentos de Maria Eugênia; Joselaine Mendes; Viviane Longo; Luciana Morato; Angelica Fabbri; Letícia Toloi; Osvaldo Jeovane; Dinelza Silva; Cristina Campioni; Dione dos Santos; Cristiane Patrici; Flávia Agostinho; Uiara Potira; Silvia Brandão.
[4]- Barbara Paulote; Beatriz Cavalcanti; Michael Argento; Mariangela de Almeida; Suzana Costa; Fernanda Bergamo; Debora Fifolato; Ronilson Rosa; Vinícius Silva. De Santos; Cibele Augusto; Luiz Martins; TamimiBorsatto; Valquíria Costa; Isaltina Oliveira.