Relato: Museu como interface
Relato por Amanda Amaral
A segunda conferência, Museu como Interface, ocorreu no dia 19 de outubro de 2016 e começou pontualmente às 15 horas. Nesta conferencia estavam presentes Cauê Alves (MUBE), Márcia Ferran (UFF) e Renan Andrade (MAES). A mediação foi feita por Stela Maris Sanmartin, professora adjunta do Departamento de Linguagens, Cultura e Educação do CE/UFES e Aline Dias, também professora do Departamento de Artes Visuais (DAV/UFES).
Cauê Alves relatou a situação atual do Museu Brasileiro da Escultura (MUBE). Este museu é uma instituição de arte, criada em 1995, com seu projeto realizado por Paulo Mendes da Rocha, localizado no Jardim Europa, na cidade de São Paulo. O discurso de Cauê se inicia com a explanação sobre o projeto inicial de Paulo Mendes da Rocha, que tinha por objetivo, criar um espaço de relações com o público e sociedade a partir do resgate de um projeto abandonado. “Seu destino seria abrigar uma noticia de paisagem” , assim Paulo Mendes da Rocha se referia ao MUBE.
Segundo Alves, nos primeiros anos de Museu, o foco fora a recuperação do espaço e a tentativa de criar um museu brasileiro e não um museu de artistas brasileiros. Sobre o MUBE, ele ressalta a adversidade presente, pensando na estrutura do museu, é o engolfamento do artista quando não há diálogo com a arquitetura do espaço expositivo, ou seja, em exposições que não ressaltam o espaço de convivência do museu, isso factualmente ocorre.
Cauê também diz sobre o conceito aparente e a tentativa de desmistificação da obra. No caso específico desse museu existe uma premissa posta por Mendes da Rocha quando o projetou: o MUBE é “como uma pedra no céu”.
A questão da ausência de reserva técnica proporcionou para o curador e diretor um novo panorama para o programa de exposições. Para Alves pode ser uma vocação do museu a exibição e o acervo de projetos de obras efêmeras em que a materialidade da obra é, ou pode ser, substituída no tempo, sendo que a obra pode até mesmo ser refeita.
Cauê conclui com as possibilidades, para o MUBE, de que, cada vez mais, o público experiencie obras de cunho fugaz e provisório, e, então, a escultura se torne um campo ampliado e não mais algo da ordem classicista.
A seguir, Márcia Ferran explanou o estudo de caso: "Hospitalidade e Teatralidade", em que situa como elemento de "Teatralidade" a idéia de museu precário e "Hospitalidade" como os elementos de postura e/ou interesse do artista por lugares à margem da sociedade.
Márcia Ferran é professora adjunta na Universidade Federal Fluminense e sua pesquisa e investigação tem foco na Hospitalidade, política cultural urbana e intervenções artísticas no espaço urbano.
Após iniciada, sua fala se estende aos aspectos da cidade como dispositivo, indústria cultural e de como essas relações são estabelecidas entre artistas, espaço institucional e sociedade (o público, o comunitário e a comunidade).
Nesse sentido se estabelece a noção de lugar de convivência como uma extensão da casa, aqui a casa é dita como espaço relacionado a lugar, ou seja, um espaço identitário e reconhecível ao espectador, que também é um lugar antropológico fora do lugar da arte, emancipada das instituições museológicas. Ferran cita o projeto do artista Thomas Hirschhorn, Museu Precário (Musée Prècaire). Nesse projeto específico, fica evidente a tentativa de ativação do público-espectador, por meio de uma relação mediada por obras de arte e pelo artista. Aqui, o museu é também deslocamento e esse ocorre de forma coerente e positiva para com a comunidade.
Sobre a via Teatral, Márcia citou, também, o Museu da Dança (Musée de La Danse), projeto em que tornava o público espectador uma espécie de curador-coreográfo, na qual se permitia a realocação de objetos dentro do espaço. O público era convidado à dança e à coreografia. O espectador inerte sai de cena nesse caso.
Volta-se então ao museu enquanto arquitetura. O mote de participação do público torna-se novamente o ponto referencial da discussão da mesa, no sentido de busca de soluções para o esgotamento do distância entre a instituição e seus públicos.
A seguir, inicia-se a última fala da mesa, com Renan Andrade, mestrando em artes pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Espírito Santo e, atualmente, é diretor do Museu De Arte Dionísio Del Santo (MAES), instituição que desenvolve ações educativas e culturais.
A história do Museu é brevemente contada, pela implementação de uma instituição museológica ainda nos anos 1980. Renan deixa claro que existiam outras instituições de arte como a Galeria de Arte do Espaço Universitário, atual GAEU, a Galeria de Arte e Pesquisa, localizada no Campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espirito Santo e a Galeria Homero Massena, entre outras galerias; mas, de fato, uma instituição no formato de Museu ainda era um vislumbre. Na implementação do MAES, participou do processo o crítico e curador Paulo Herkenhoff.
O primeiro acervo se deu com a morte de Dionísio Del Santo e, a partir desse momento, sua produção é incorporada á instituição. A intenção inicial, de um museu com acervo próprio, depois das doações pela família de Dionísio se fecha. Começam, então, as articulações com outros espaços culturais.
Entre os anos 1990-2000, surgiram várias de instituições no Espírito Santo, e o museu MAES procura se tornar protagonista de processos educativos e suas conseqüências. Isso ocorre, de fato, a partir do projeto "Como Ser MAES", organizado por Neusa Mendes para se pensar a curadoria juntamente com as ações educativas. Houve, então, um envolvimento interno de todos os profissionais do espaço, para que juntos buscassem uma melhor experiência de mediação. A questão sobre a mediação estende-se a outros projetos como o ''Predart", contudo o que se desejava, de fato, era a discussão da reprodutibilidade do setor educativo quando falamos sobre uma projeção de projetos temporários na instituição.
Renan comenta ainda sobre algumas questões da função educativa e de como realizá-la de maneira coerente. Sobre a reforma do Museu, houve, segundo ele, a abertura das plantas de acervo com o projeto inicial, para artistas que puderam intervir no espaço durante o processo de reforma do museu. Neste sentido Renan procurou formas de criar reposicionamentos dos sujeitos para com a cidade e projetos cada vez mais estendidos e direcionados também à comunidade.