Relato: Alternativas para mediação institucional em espaços independentes e agenciamentos dos artistas.
Relato por Felipe Lacerda
Na mediação da mesa estavam Raquel Garbelotti, professora do DAV / UFES (Departamento de Artes Visuais – UFES) e Ricardo Mauricio, professor do DAV / UFES.
Raquel Garbelotti, fez a abertura da mesa agradecendo a presença do público e dos debatedores: Ricardo Basbaum, que é artista, escritor e professor do Instituto de Arte do Rio de Janeiro e Yiftah Peled, que atua como artista, é coordenador da GAP (Galeria de Arte e Pesquisa – UFES), professor DAV / UFES (Departamento de Artes Visuais – UFES), e participante do grupo de pesquisa DISSOA (Diálogos entre Sociologia e Artes).
Em seguida Ricardo Basbaum, fez seu depoimento sobre a sua prática coletiva no Rio de Janeiro com um grupo de artistas e ações que podemos indicar como independentes. Segundo ele, na verdade, nunca estamos independentes de tudo, a independência existe até um determinado ponto, porque você estabelece acordos para se manter mais ou menos independente e pensar possibilidades de negociar para produzir, exibir, distribuir questões, conceitos, criar situações de compartilhamentos, e essa é a dimensão institucional. Nesse depoimento ele não traz apenas seu testemunho, mas sim o relato de alguém que participou de certas ações, importantes, sobretudo no Brasil, que muito da história da arte se dá nesses encontros, comunicações orais que nem sempre têm relatos publicados. Tais depoimentos, portanto, assumem grande importância. A palavra "alternativa" é muito adequada, pois é nessa direção que as ações que Ricardo relatou se inscrevem. São ações surgidas no horizonte com a finalidade de criar alternativas, e, nesse sentido, ele destaca que as situações de mediação sempre estarão colocadas nos seus mais variados modos. Quando falamos sobre o meio institucional, parece que estamos falando do museu, do centro cultural ou da universidade. Porém, na verdade, mesmo dentro desse meio institucional, se colocam os espaços ditos alternativos ou independentes. Assim, buscar alternativas é algo que acontece a todo o momento, não só entre jovens artistas, mas também para artistas de mais larga experiência. Afirmou que este depoimento é de quem, no final dos anos 1980, junto com um grupo de artistas, se viu a procura de alternativas para expor seus trabalhos, obter locução crítica para entender o que se estava fazendo então, ter diálogos com colegas e com outros agentes do circuito, sempre necessário, independentemente, se é jovem artista ou não. Evitando-se, assim, entrar no automatismo de um circuito a que o campo da arte sempre te conduz.
O termo "buscar alternativas" proposto pela mesa, é bastante apropriado, para não se pensar em algo pronto e acabado dentro das instituições existentes. No século XX, com o movimento das Vanguardas, para fazer um contraponto, os participantes daquele momento, estavam à frente do território institucional: Picasso criou o Cubismo, mas não tinha onde expor porque no Museu do Louvre não cabia aquele gênero de pintura. Precisaram criar um Museu de Arte Moderna para abrigar essa produção; foi preciso inaugurar uma discursividade critica, teórica, para construir uma maneira de se falar sobre aquilo. A Vanguarda é, pois, a história das produções alternativas em circulação naquele momento.
Por volta de1988/89, Ricardo Basbaum, organizou um grupo de estudos com vários artistas, sobre arte moderna e contemporânea e faziam encontros semanais, a partir da vontade de criar e produzir. Em Junho de 1991, surgiu o grupo Visorama, e foi muito interessante, porque foi um momento muito fértil para todos, segundo ele, e o que era um grupo de estudo virou um grupo de ação, naquela época ainda não havia a figura do curador presente, então o grupo se articulou muito mais na área de crítica de arte. Muitas pessoas naquela época sonhavam tornar-se um funcionário de galerias. Desta forma, o Visorama veio preencher a carência de interlocução, não ter com quem trocar idéias, alguém para escrever sobre os trabalhos, produzirem revistas, e escreverem manifestos. Isto permitiu ao grupo entrar em contato com vários artistas brasileiros e com artistas estrangeiros, que estavam de passagem pelo Brasil - mais, especificamente, no Rio de Janeiro, onde o coletivo se reunia. O grupo organizou um evento denominado Visorama na Documenta no Parque Lage, que fica no Rio de Janeiro, organizando duas sessões por semana para discutir a obra de determinado artista; e, no outro dia, o próprio artista comparecia para falar sobre o seu trabalho. Segundo Basbaum, o senso de coletividade foi muito importante, porque eles estavam procurando o próprio agenciamento de alternativas de como fazer.
Ricardo diz que o grupo se sentia muito ofendido com os textos mal humorados de Ferreira Gullar, publicados semanalmente no jornal do Brasil, em que o escritor dizia que a arte contemporânea era uma farsa. O grupo ficou indignado porque eles se esforçavam para escrever, publicar e buscar a legitimidade com o trabalho deles,relacionado com a Arte Contemporânea.
O artista participou, também, de vários outros projetos tais como a revista Item que nasceu a partir de um debate e trouxe, no primeiro número, vários textos de artistas e os temas relacionados. Ricardo, também participou de outros projetos como Espaço P com Helmut Batista e o espaço Agora Capacete com apoio financeiro de um ano pela Petrobras.
Para finalizar sua fala na mesa Ricardo diz que tudo aquilo que foi feito, tentou abrir um diálogo, buscando alternativas independentes.
Na sequência, o segundo convidado para a mesa, Professor Yiftah Peled começa sua fala.
Yiftah, inicia, falando sobre duas situações relacionadas com espaço independente. Uma delas diz respeito ao evento, ocorrido, em Florianópolis, onde, à época, era residente, e que tinha como tema O museu como interface: arquitetura, arte, gestão e comunidade. Esse evento ocorreu junto ao Museu Vitor Meireles em 2011. O Projeto aconteceu no espaço independente Contemporão. O artista Martin, se ofereceu para fazer uma oficina de performance e para falar sobre sua experiência com espaço e gestão.
Outro trabalho realizado no Contemporão ocorreu na época da construção do Museu Oscar Niemeyer, que, então, seria chamado o Novo Museu, e, mais tarde, levou o do nome do arquiteto. Na ocasião foi feita uma miniatura de bolo marmorizado no formato de um olho, para representar o Museu, e o público foi convidado para o evento. Em 2010, o artista Ricardo Basbaum, enviou um trabalho para exposição, chamado Ao Avesso, que dizia respeito a vestimentas e desdobramentos das performances.
O projeto chamado Contemporão, foi escolhido para juntar os termos: contemporaneidade e porão, porque este era o espaço da casa onde se realizou o projeto. Foi criado em 2009, com a parceria de Elaine Azevedo e era voltado para o tema da performance e das artes visuais e seus desdobramentos, com a finalidade de apoiar as produções experimentais.
Em 2013, com a mudança do Professor Yiftah para Vitória, o projeto se deslocou para cá.
Segundo ele, o conceito "espaço independente" pode ser mal interpretado no sentido modernista, porque pode dar sentido a algo que flutua no espaço, isto é, que se desliga do lugar. Ocorre que a palavra "independente" é uma palavra problemática porque ninguém é independente de de coisa alguma. Estamos sempre ligados a um contexto. O Professor Yiftah apresenta um manual, chamado Manual Fácil, que ajuda o consulente a compreender através de termos opostos.
Em 2014, fez uma publicação em São Paulo sobre "Espaços Independentes". No mesmo ano fez, também, uma exposição em um apartamento localizado sobre a loja Aladim, na Avenida Rio Branco, Praia do Canto, em Vitória, espaço que permitia um suporte de melhor distribuição. Fez, também outra exposição realizada em 2014, com o nome: "Quem troca?". E a exposição do Carlos Borges, "Rules No Rules", uma contradição com a regra. Recebeu, ainda, um convite para participar de um evento no espaço independente chamado "Rodízio Real", que, além da exposição, serviu de espaço para venda.