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Relato Mesa 4: Patrimônio Histórico e Museus

1º Encontro das Ações Educativas em Museus da cidade de São Paulo - 15/08/2006, por Christiana Moraes
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Carla Milano, uma das articuladoras do Encontro, abriu os trabalhos da tarde fazendo um retrospecto dos assuntos tratados até então chamando a atenção para pontos que na sua opinião ainda foram pouco discutidos. O primeiro deles diz respeito à grande quantidade de museus paulistanos localizados em edifícios em desuso, adaptados para as funções museológicas, mas não especialmente projetados para estes fins, destacando “intervenções felizes” como as realizadas na Pinacoteca do Estado e no Museu da Língua Portuguesa, conduzidas por Paulo Mendes da Rocha.


Tomando por base o ambiente físico e as participações de Daniela Azevedo (Instituto Cultural Itaú) e Denise Marques (Museu Paulista), Carla Milano propôs uma provocação acerca da influência do espaço no desenvolvimento das ações educativas ao indagar-se sobre quais seriam as características específicas que devem ser consideradas no trabalho contextualizado em um prédio histórico e em outro edifício sem esta marca.


Na indagação subseqüente, sobre as diferenças entre uma ação educativa voltada para um acervo tradicional, fixo e material daquela constituída para bens imateriais, a diretora da Divisão de Iconografia e Museus (DIM) do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) da cidade de São Paulo revelou tanto a sua preocupação em estabelecer parâmetros melhor definidos para as ações educativas da divisão que coordena, quanto o desejo de maior entrosamento com os colegas de área – o que, aliás, permeou sua comunicação em diversos momentos.  


Carla Milano percebe como relegada a segundo plano a discussão sobre as ações educativas em museus de história externando sua percepção de uma maior ocupação no meio para com os museus de arte. “Será que devemos falar em Ações Educativas ou Ação Educativa?”: foram diversas as interrogações que, à revelia, exalaram um frescor pouquíssimo observado em instituições tradicionais de arte com programas educativos continuados.


Citando o Centro Cultural do Banco do Brasil e o Centro Cultural da Caixa Econômica, equipamentos culturais praticamente vizinhos ao Solar da Marquesa – local no qual se situa a Divisão de Iconografia e Museu –, Milano ofereceu suas considerações acerca da necessidade de estabelecimento de parcerias via Ação Educativa, acreditando ser esta a maneira menos burocratizada de vinculação entre instituições.


Após esses apontamentos iniciais, a mesa foi apresentada, sendo a supervisora do Museu Anchieta, Mariana Fuzissaki, a primeira a fazer sua apresentação. Versando sobre a implantação da Ação Educativa, iniciada em 2004 no museu em que atua, Fuzissaki nos expôs as considerações empreendidas para transformar um serviço de monitoria pautado na mediação “discursiva” em uma ação abrangente, implicada em valores educacionais atualizados.


Ficou evidente na fala de Mariana, no entanto, a dificuldade de  estabelecimento de uma ação educativa para a grande parcela de público organizada por agentes de turismo. Utilizando-se de recursos de avaliação empírica, puderam verificar que problemas de atraso, falta de informação e desrespeito às normas de conduta estabelecidas para a visitação eram problemas presentes na maioria das visitas guiadas por agências. Deste modo, o Museu Anchieta passou a se utilizar de dispositivos que parecem acreditar ter o efeito de minimizar o abismo entre os distintos usos de seu patrimônio museal, deixando implícita a consideração de que objetivos turísticos e educacionais são mutuamente excludentes. O trabalho de agentes de turismo que não tivessem passado por pelo menos um mini-curso oferecido pelo educativo do museu passou a ser impedido.  


Se em sua maioria os museus e instituições de arte volta-e-meia se vêem envoltos em planejamentos estratégicos – se tanto... – para aumentar sua visitação, o Museu Anchieta, detentor de patrimônio formativo de identidades e imaginários coletivos, recebe públicos numerosos sem que seja necessário empreender grandes esforços. Fico pensando - e agora sou eu quem se interroga –  se o grande número de público deste museu não teria mascarado por tanto tempo o surgimento de um projeto educativo mais efetivo.


Encimando essas questões, vislumbramos, mais uma vez, o “império dos estagiários” como uma solução para a ampliação de uma equipe educativa de recursos reduzidos, por meio do aumento de uma parceria com a PUC. Mesmo que estudantes possam ser desafiadores, curiosos e perspicazes, receio que a melhoria da qualidade conceitual e prática das ações educativas em São Paulo esteja diretamente associada à ampliação generalizada de quadros mais estáveis, formado por profissionais capacitados, experientes – e bem pagos, por que não? – e que as boas intenções com que Mariana finaliza sua participação acabem por morrer na praia.


Nilson Moulin, o segundo palestrante, parece responder com o relato de uma ação prática a algumas das perguntas propostas por Carla Milano. Contagiando a platéia com sua fala apaixonada, o educador compartilhou sua experiência vivida na implantação do Museu Sacaca do Desenvolvimento Sustentável. Deixando claro sua impaciência com falas analíticas, pouco propositivas e permeadas pela retórica que circunda a expressão “vontade política”, o educador expôs o contexto sob o qual se tornou possível a fundação de um museu orientado por padrões de excelência, totalmente marginal ao eixo hegemônico cultural brasileiro. Neste sentido, a ação do então governador João Alberto Capiberibe [PSB-AP], que teria percebido como inevitável em sua política de Educação Ambiental uma gestão cautelosa na área cultural, é apontada como determinante. Para tanto, porcentagens significativas do orçamento estadual foram destinadas para a construção de um ecomuseu na cidade de Macapá.


Sugerindo indícios para uma Ação Educativa que se pretende eficaz, Moulin exprimiu o obrigatório conhecimento da realidade amazônica e de suas exigências locais sob a ótica de seus habitantes, como elementos que o habilitassem a trabalhar no projeto do Museu Sacaca.  O educador afirmou que por lidar com o imaginário popular o museu não poderia apenas reproduzir práticas conduzidas em outros contextos, como aquelas levadas à cabo, por exemplo, nos museus paulistas (manterei o duplo sentido desta frase propositadamente).


O palestrante ressaltou a importância do museu ter sido edificado com materiais de qualidade, sendo exemplo disso o uso de madeiras nobres, tanto “exportadas para São Paulo”, quanto utilizadas na produção do perfurme Channel 5. Os cuidados com a beleza do museu e com a amplitude de seus espaços foram apresentados como opção política, dada a contribuição na melhoria da auto-estima do povo ali representado –  público-alvo das ações educativas do museu.


O resultado da compreensão desse respeito pôde ser vislumbrada na narração de iniciativas de ribeirinhos que, enfrentando dificuldades, têm contratado barcos para conseguirem alcançar o Museu Sacaca. Neste momento Moulin insinuou uma descrença em ações assistencialistas como aquelas que regem a contratação de ônibus por museus para o transporte de seus públicos. Ficou subentendida a relação entre auto-estima, vinculação e compromissos bilaterais.


Na seqüência, Lia Mayumi apresentou o projeto “Casas Bandeiristas: Espaços museológicos”, deslocando o tema até então permeado pelo mote geral do encontro – ações educativas – para se ater à proposta específica da mesa intitulada “Patrimônio Histórico e Museus”. Sendo assim, foram apresentadas as seis casas bandeiristas de São Paulo como objetos museológicos e de memória, forjados para serem museus durante a gestão de Luis Saia à frente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.


Segundo a representante da Divisão de Preservação do DPH, a unidade formal entre as casas foi resultado da necessidade de se constituir, já na década de 1950, imagens arquitetônicas que fossem simbólicas para a cidade. Casas alvíssimas, marcadas por madeira marrom, passaram a ser modelos projetados sobre as casas bandeiristas, fazendo com que anexos, pinturas coloridas ou telhados diferentes do padrão estabelecido de quatro águas fossem abolidos por meio de processos de restauração absolutamente opostos aos métodos e conceitos empregados atualmente.


Maria Antonia V. Lopes, funcionária do Serviço Educativo da DIM/ DPH, focou sua apresentação no relato de um projeto voltado para o público de terceira idade existente no Solar da Marquesa há 13 anos. Para além dos programas e metodologias comumente empregadas junto a essa tipologia de público, destacou-se em sua fala a possibilidade dos participantes do grupo realizarem curadorias com o uso de seus próprios objetos de longa datação e de peças armazenadas na reserva técnica da DIM/ DPH do Solar da Marquesa. Apesar de não haver utilizado a palavra curadoria, o projeto apresentado, mesmo que latente, reitera a potência conhecida do trabalho no qual projeto curatorial e ação educativa se apresentam em uníssono.


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