Visita ao COPAN

relato de Vitor Cesar

 

O Copan possui uma presença em São Paulo que já está no imaginário da maioria das pessoas. Ser o maior conjunto habitacional da cidade e ter sido projetado por Niemeyer contribuem bastante. Além de ser um marco visual no centro da cidade, o Copan é um marco simbólico para a população. Talvez por isso, uma visita ao Copan seja necessariamente uma negociação constante entre o que se espera do edifício e o que realmente acontece na experiência do espaço. O grupo que integrou o curso de Intervenções urbanas fez uma visita para ver o copan, não para algo que aconteça ou alguém que esteja lá. Tentando resumir um pouco nosso percurso, posso dizer que tudo aconteceu da seguinte forma: subimos para ver a vista que se tem do copan e depois conversamos com o síndico do edifício.

 

O edifício foi projetado por Oscar Niemeyer dentro de premissas modernistas, apresentando características como o uso do brise-soleil, o pilotis, a forma escultural e a monumentalidade, tendo como referência clara o trabalho de Le Corbusier. Tudo com a assinatura formal do arquiteto que subverte uma certa ortogonalidade muito conhecida em outros projetos modernistas pelo mundo.

 

Dados e números sobre o edifício impressionam, o Copan possui 1160 apartamentos, 5000 mil moradores, CEP próprio e um centro comercial. Pela escala, temos a sensação de que o arquiteto projetou uma pequena cidade. E talvez por isso, foi com uma postura de prefeito que Sr. Affonso, sindico do prédio a 15 anos e morador a mais de 40, nos recebeu em seu escritório com ar de repartição pública. Muito solícito, o Sr. Affonso preferiu não iniciar uma fala sobre o prédio, mas responder, dentro do possível, às perguntas dos visitantes. Disse que sua meta é que 100% dos apartamentos sejam habitados por proprietários – atualmente, cerca de 67% dos moradores são donos do próprio apartamento, muito diferente dos 30% que haviam no início de sua gestão.

 

Respondendo à pergunta de como o pensamento comunista de Niemeyer estaria incorporado à arquitetura do edifício, Sr. Affonso acredita que o arquiteto não pensou nisso. Esta é uma das questões que ressaltam numa reflexão sobre o Copan. Niemeyer projeta o prédio para ser habitado por pessoas de diferentes classes sociais, com unidades de apartamentos de vão de 26m2 a 214m2. Existe aí o claro interesse em promover uma diversidade social, possibilitando que pessoas de diferentes classes sociais morem compartilhando um mesmo espaço.

 

Considerando o programa do edifício, onde o arquiteto tem a possibilidade de pensar em um espaço de uso misto (residencial/comercial), com o interesse em por em contato pessoas de diferentes classes sociais, podemos perceber que existe uma abordagem característica de projetos de planejamento urbano. Niemeyer trata o edifico como um espaço público. E é sobre essa concepção de espaço público considero importante refletir. Não só especificamente ao Copan, mas à concepção de espaço público pensada pela arquitetura moderna.

 

Temos uma estrutura que parece interessante, onde pessoas diferentes compartilham o mesmo espaço. No entanto, o espaço precisa ser definido pelo arquiteto. Não seria o espaço público um lugar construído apenas de maneira coletiva? A arquitetura moderna, na sua grandiosidade, parece indicar um sentimento de unidade bem adequado com o espírito nacionalista da época, porém, de maneira um tanto impositiva. O prédio é um objeto que possui autonomia formal e não parece ter tanto interesse em se comunicar com o contexto. Este espaço público único, pressupõe uma unidade entre a população que não me parece existir em lugar algum, principalmente numa cidade como São Paulo.