Pinacoteca do Estado

por Santiago Reyes

I

 

26 de Dezembro 1905, São Paulo

 

Ontem, 25 de dezembro, depois das celebrações do natal, na cidade de São Paulo, no reconhecido setor da Luz, os mais ilustres personagens da sociedade paulistana encontravam-se no Liceu de Artes e Ofícios para dar inicio ao projeto de construção de uma Pinacoteca. Uma iniciativa do Secretário do Interior e Justiça José Cardoso, apoiado pelos incentivadores Freitas Valle (poeta e mecenas das artes na cidade), Francisco de Paula Ramos de Azevedo (engenheiro-arquiteto, vice-diretor do Liceu e professor da Escola Politécnica), Sampaio Vianna (político) e Adolpho Pinto (engenheiro), esta aliança da iniciativa pública e o setor privado procura colocar a cidade de São Paulo ao nível das mais avançadas  capitais do mundo.       

 

O prédio do Liceu de Artes e Ofícios, concebido e construído pelo Escritório Técnico de Ramos de Azevedo, foi concluído de maneira parcial em 1900. Pensado para acolher as atividades do Liceu, o projeto original não tinha um espaço para exposição de obras; para a instalação da Pinacoteca foram reformadas e juntadas três salas do segundo andar. O novo espaço foi adaptado para as necessidades técnicas da Pinacoteca. No segundo andar do prédio do Liceu uma elegante e ampla sala de paredes vermelhas abriga as 26 obras do atual acervo da Pinacoteca. Com uma grande clarabóia o espaço tem uma ótima iluminação e apropriada distribuição de luz. A atmosfera desta sala é ideal para a contemplação do grupo de 26 pinturas que a compõe, a saber: Pedro Alexandrino (8), José Ferraz de Almeida Júnior (4), Antonio Ferrigno (1), Benjamin Parlagreco (3), Antonio Parreiras (2), Oscar Pereira da Silva (4), Pedro Weingärtner (2) e Berthe Worms (2). Este  grupo de obras adquiridas pelo Estado de São Paulo são uma transferência do Museu do Estado para a Pinacoteca.

 

Estas obras mostram a virtuosidade na representação da realidade e a fidelidade aos cânones acadêmicos por parte destes grandes maestros. O conjunto de pinturas colocará os estudantes do Liceu em contato com os parâmetros de beleza, construindo assim, um correto ensino artístico. 

 

II

 

24 de Março 2008, São Paulo

 

 

No dia 22 de março de 2008 começou o curso Intervenções Urbanas da Universidade de São Paulo (USP), conformado por estudantes desta mesma universidade e da universidade Massachusetts Institute of Technology (MIT). Com a direção dos docentes Ana Maria Tavares (USP), Martin Grossmann (USP) e Antoni Muntadas (MIT), o grupo nesta semana fará um intenso percurso pela cidade de São Paulo. A intensa agenda deste grupo de pesquisadores inclui visitas a centros empresarias, favelas, centros culturais e variadas atividades pela cidade. 

 

O curso tem como objeto de estudo a cidade de São Paulo, e propõe uma investigação e reflexão das três centralidades da cidade: Centro: 1900-1940, Desenvolvimento da cidade relacionado à bonança cafeteira e o primeiro período de industrialização; Avenida Paulista: 1950-1980, constituição de uma nova centralidade que foi produto do rápido crescimento da cidade gerado pelo investimento industrial e financeiro; Avenida Berrini e Avenida Faria Lima: 1980 - presente, o foco de investimento do capital financeiro e informático desloca-se a um setor da cidade de uso residencial, este deslocamento gera efeitos  urbanísticos, sociais e culturais.

 

Este diário acompanha o grupo na segunda-feira, 23 de março, na sua visita à Pinacoteca do Estado. A agenda deste dia foi: Apresentação da geógrafa Marli de Barros das 9h00 às 10h30 no Centro Cultural São Paulo (CCSP),  base física do curso. Caminhada e almoço no centro da cidade das 11h00 às 14h00, Visitas à: Estação da Luz às 14h30, Pinacoteca do Estado às 14h45 e Sala São Paulo às 16h30.

 

Na entrada da Pinacoteca o grupo foi recebido pela investigadora e curadora Ana Paula  Nascimento,  quem fez com o grupo uma informal visita pelo prédio. A investigadora mostrou as características arquitetônicas do prédio e aponto alguns aspetos do acervo.

 

A fala começou com uma rápida narrativa da história do prédio, construído pelo arquiteto Ramos de Azevedo e parcialmente concluído em 1900. O projeto original foi concebido para abrigar as atividades do Liceu de Artes e Ofícios. Em 1905, depois de umas reformas, é instalada a Pinacoteca em uma das salas. Em 1930 o prédio é ocupado pelos militares para ser utilizado como abrigo e outros fins, em 1947 a Pinacoteca volta a ser instalada no prédio. No período de 1967 a 1975 são feitas reformas para ampliação das atividades do museu, em 1993 foi feita, pelo arquiteto Pablo Mede da Rocha, uma profunda reforma adequando-o às funções museológicas.

 

Foram até a varanda do edifício com vista à Avenida Tiradentes.  Ana Paula informou que ali era a entrada principal do prédio no projeto original de Ramos de Azevedo. Fazendo referência ao arquiteto, um grupo de estudantes apontou os fatos que envolveram o monumento a Ramos de Azevedo, feito para estar na frente da antiga entrada da Pinacoteca, onde permaneceu até 1967, quando foi desmontado para depois ser re-instalado na Cidade Universitária. A sala de maior interesse para o grupo foi a do concretismo, pois este movimento da arte brasileira, fundamental para a historia do país, é pouco conhecida no exterior, despertando grande curiosidade nos estudantes estrangeiros. A visita concluiu com a apresentação no auditório do museu, por um grupo de estudantes da turma, do projeto Monumetria.