Palestra Marli de Barros: Sobre o desenvolvimento da cidade
São Paulo cresce assustadoramente, mas seu crescimento não parece ser sinônimo de desenvolvimento, pelo menos não nas relações humanas construídas. Para situar o leitor de como chegamos neste patamar é salutar revermos a historia da cidade que se confunde com os interesses políticos e econômicos da mesma. Os deslocamentos das centralidades nos mostram que a cidade se divide num espaço-tempo determinado pelas mudanças de paradigmas e das formas de apreensão e controle do espaço público. Para compreendermos como se deu esse crescimento, falaremos das três centralidades abordadas durante a semana de imersão USP/MIT com estudantes e professores das duas instituições que tomaram a cidade de São Paulo como laboratório e estudo de caso. A apresentação do escopo dessas centralidades teve como colaboradora a geógrafa Marli de Barros que norteou temporalmente as três centralidades presentes: (1) Centro de São Paulo 1900-1940, (2) Paulista 1950-1980 e (3) Berrini 1980 até os dias atuais.
Iniciaremos nossa “viagem” desembargando em meados dos anos 20, no centro da cidade de São Paulo. A cafeicultura se desenvolvia e com ela a cidade ia ganhando seus prédios e equipamentos urbanos como bancos que serviam de aporte para empréstimos e investimentos na indústria e de transporte ferroviário que dava vazão a produção. Com o café e os processos de industrialização, outras atividades laborais foram sendo desenvolvidas, atendendo assim, a demanda da cidade nas suas vocações industriais, onde a região prosperava e abria os braços aos imigrantes de dentro e de fora do país
Centro de São Paulo foto: Marcos Martins
. Mesmo com todas as oportunidades oferecidas pela indústria os processos de urbanização da cidade não acompanharam seu crescimento, faltando para aqueles que vieram em busca de trabalho um lugar digno para morar, desta forma o trabalhador almejava morar próximo do seu ponto de trabalho e já que o transporte público não atendia as demandas da população, como hoje ainda não atende.
Enquanto isso, a avenida paulista estava sendo construída nos moldes dos bulevares europeus para servir de residência a burguesia industrial da cidade. No final dos anos 30 a cidade já desfrutava do maior parque industrial da America Latina. As indústrias e serviços se deslocaram para a região da paulista formando assim a segunda centralidade e provocando o abandono da região central.
Com a verticalização de edifícios comerciais e de serviços e a constante valorização da região os terrenos da paulista sofreram uma supervalorização imprimindo não somente uma mudança na paisagem, mas também, na própria dinâmica da cidade com a retirada das casas e a substituição das mesmas pelos arranha-céus. Nos anos 80 instalaram-se ali edifícios das multinacionais e de grandes instituições financeiras mundiais caracterizando a região da paulista como similar a de grandes centros comerciais do mundo.
Vista da Favela Parque Real e entorno foto: Marcos Martins
Hoje, com o capitalismo globalizado e a grande rede de controle e poder presente. Já estamos vivenciando a terceira centralidade e a transmutação do símbolo econômico para a região da Berrini. No entanto, essa rede que metamorfoseia a cidade, trabalha com os processos de desagregação de espaços e enfraquecimentos de comunidades periféricas como o caso da comunidade do Parque Real, que visitamos.
Os processos de especulação e segregação se dão com medidas estratégicas arquiteturais e sociais como a construção de edifícios comerciais e residenciais em áreas de favelas, provocando assim a expulsão da comunidade e o esvaziamento das ruas com a quebra das relações de vizinhança que foram construídas. Outra forma de desagregação tem sido a precariedade dos meios de transporte oferecido à comunidade e a falta de assistência básica de saúde e educação. Sem equipamentos básicos e com a pressão da especulação imobiliária as famílias se vêem numa situação constrangedora. Uma briga entre Davi e Golias. Que vença sempre o Davi!