Encontro íntimo
Foram em total 2024 fotos realizadas durante a semana do 23 ao 29 de março. Palestras, visitas, pessoas, arquitetura e festas. Durante uma semana nos aproximamos de São Paulo sob a consideração do entendimento do temor e a perda do espaço público, com vistas à descoberta de suas representações. Dois grupos compostos de diversas nacionalidades, 15 pessoas que vinham de Boston e 15 mais que já estavam em São Paulo, se juntaram para entender a cidade em primeiro termo, e em segundo lugar para propor intervenções juntos. Sem pressões; como devem ser todos os experimentos que querem obter resultados honestos. Nós, que ouvíamos as palestras e nos conhecíamos uns aos outros, não sabíamos muito bem como proceder. E isso estava bem já que só do caos e a insegurança nascem perguntas, para posteriormente serem respondidas. As colaborações particulares aconteceram. Pequenos grupos se conformaram para pensar e intervir em São Paulo. O que para mim seria a definição do eixo central, envolta do qual girava o curso, aconteceu também espontaneamente por petição de alguns de nós. Foi uma conversa de quarenta e cinco minutos na sexta-feira 28, antes da visita programada ao Copan. Nela foram propostos os pontos centrais do experimento que consistia na junção dos dois grupos mas também foram discutidas especificidades práticas da arte. O encontro surgido para nos mostrar de novo o propósito do curso começava a ir além, lançando perguntas fundamentais que atormentam –ou para outros simplesmente inquietam- o que quer dizer produzir arte em nossos contextos específicos.
Aquele encontro íntimo, em que ninguém se sentou à mesa de palestras e no qual a câmera de transmissão para a web estava ausente, começou com Muntadas e Ana Tavares definindo o desenvolvimento geral do curso. Mas as inquietações surgiram e foi até emocionante ver como começavam a aflorar em esse espaço naturalmente concebido, as inquietudes dos participantes em torno à criação artística. Então se fez ênfase nas idéias, tais como o caso freqüente dos arquitetos que viram artistas após estudar a cidade. Também se definiram algumas problemáticas da representação artística, o artista dentro do circuito e a juventude que desenvolve desde fora dele seus projetos, se negando a pertencer para conseguir fazer. O caso do projeto Esfera Pública e nele o curioso dado do patrocino da Petrobras e a negativa de um artista a ser patrocinado por ela. A pergunta no ar: quão longe você iria em contradição de sua estrutura moral pelo benefício de sua carreira como artista? O caso colombiano percebido desde fora como uma rede de crítica organizada. O caso da crítica e o “Pensar-se arte” em relação às suas publicações; as que crescem sem o controle do circuito, sempre fechado demais, sem importar de que lugar do planeta estivermos falando. O estudo quase autodidata no caso da arte Site Specific no Brasil. Em síntese, era claro como se fortificava uma rede internacional de um pouco mais de trinta pessoas em torno ao tema das redes. O dentro e o fora de elas. Os limites que as compõem, nunca o suficientemente claros.
Naquele papo informal se definiam os nós que conformavam esta pequena rede ao mesmo tempo em que víamos surgir perguntas ontológicas do artista. Seria muito pretensioso querer que aquelas perguntas tivessem sido respondidas em uma semana. Este era só o nosso primeiro encontro. As perguntas dos artistas sobre como fazer arte requerem toda uma vida para serem resolvidas. E vão mudando tanto as perguntas quanto as respostas com o transcorrer da carreira. É para isto que temos tempo. O Copan nos esperava, as inquietudes tinham sido soltas de suas gaiola, o curso estava quase terminando e se tinha a sensação de que havia sido mais significativo do que imagináramos inicialmente. Todos aplaudimos agradecendo à Ana Tavares e seu grupo pelo esforço de haver nos juntado gerando o espaço para que nossas dúvidas se conhecessem.