Errinhos gigantescos

Essa lista vai crescer aos poucos. Acrescente suas sugestões.

Em ordem de freqüência de aparições no mundo:

1. Ele tem; eles têm

O verbo ter no plural leva acento circunflexo. Escrever 'eles tem' é tão grave quanto 'eles foi'.

2. Ele vem aqui; eles vêm aqui também; eles vêem longe

O mesmo vale para o verbo vir. Escrever 'eles vem' é tão errado quanto 'eles vai'. O correto é usar o acento circunflexo: eles vêm aqui amanhã.

Mas se você estiver usando o verbo ver (enxergar), o plural é eles vêem. O mesmo ocorre com crer (eles crêem), dar (que eles dêem), ler (eles lêem).

3. Ainda o verbo ver: se você o vir por aí...

No futuro, o verbo ver é "vir': "quando o espectador vir a exposição ficará em êxtase".

5. O gerúndio

Esse é um caso gravíssimo pois é um erro tão disseminado que aos poucos as pessoas incorporam o gerúndio mal usado a seus textos e falas. A razão do uso equivocado do gerúndio são os manuais de telemarketing que foram mal traduzidos do inglês para o português. Em inglês é correto dizer "I'll be sending you the catalogue tomorrow." Mas em português não é correto dizer "Eu vou estar te enviando o catálogo amanhã".  O correto é "eu vou te enviar o catálogo amanhã".

O único uso correto do gerúndio é a simultaneidade de acontecimentos: "quando você estiver chegando a S. Paulo, meu avião estará decolando para o Rio".

Para se livrar do gerundismo, um bom remédio é ler o seguinte texto: http://kplus.cosmo.com.br/materia.asp?co=122&rv=Literatura

5. A crase

O "à" é uma preposição "a" seguida de um artigo "a". Ou seja, precede um substantivo feminino. Para não errar, faça o teste do masculino: refaça a frase usando a preposição "a" seguida do artigo "o".

Exemplo: "ele foi a feira" ou "ele foi à feira" ?  Substitua a "feira" por um substantivo masculino: ele foi ao banco. Você nunca diria "ele foi a banco", então também não deve dizer "ele foi a feira".

Existe um mito de que a crase não deve ser usada antes de pronomes possessivos. Isso é falso. É correto, por exemplo, ecrever "graças à sua paixão pela arte", pois usando um substantivo masculino no lugar de "paixão", a frase seria correta com a contração "a+ o':  "graças ao seu amor pela arte". Acontece que também é certo falar "graças a seu amor pela arte" e portanto é também correto falar "graças a sua paixão pela arte".

Esse é um caso em que não dá para errar. Mas veja por exemplo uma outra construção: "o palestrante falou de sua dedicação a arte". Está correto pois "o palestrante falou de sua dedicação a esportes." Mas se você está falando especificamente de futebol, e já mencionou o futebol nas redondezas dessa frase, então fica melhor dizer "o palestrante falou de sua dedicação ao esporte". Ou seja, se o palestrante estiver falando de uma arte específica, como a arte de fazer sushi, então prefira "o palestrante falou de sua dedicação à arte".

Uma contrução muito usada em relatos: ele falou a respeito de seu trabalho. A expressão "a respeito de" nunca tem crase (mesmo porque, respeito é um substantivo masculino...).

6. Vírgulas

Use com parcimônia. Uma frase que precisa de muitas vírgulas é, provavelmente, uma frase longa demais. Divida-a em duas frases menores. 

Não separe sujeito e verbo com a vírgula. É errado escrever "O artista, veio ao Brasil proferir uma palestra". Raramente alguém cometerá esse erro tão explicitamente, mas ele aparece com freqüência em frases mais longas, misturado com apostos:

"O artista que recebeu o prêmio pincipal da bienal de 1951, veio ao Brasil proferir uma palestra ". Aqui o sujeito (o artista) ficou separado do verbo (veio) pela vírgula. Então há duas soluções:

1. coloque mais uma vírgula, caracterizando a frase intermediária como aposto, explicação extra: "O artista, que recebeu o prêmio principal da bienal de 1951, veio ao Brasil proferir uma palestra ".

2. retire a vírgula, e nesse caso a frase intermediária não é mero adendo mas sim informação fundamental para a identificação do artista de quem estou falando: "O artista que rececbeu o prêmio principal da bienal de 1951 veio ao Brasil proferir uma palestra ". 

6. Próclise, mesóclise e ênclise

Onde colocar o pronome oblíquo ou reflexivo? O palestrante se sentou ou sentou-se? Uma regra boa é usar sempre ênclise a não ser quando houver uma palavra que atraia o pronome para antes do verbo. As palavras "atrativas" mais comuns são:

a) Palavra de sentido negativo: não, nunca, ninguém, jamais, etc.Ex.: Não se esqueça de mim.

b) Advérbios. Ex.: Agora se negam a entregar os textos dos paletrantes!

c) Pronomes relativos. Ex.: Quem se retirou primeiro foi a Milú Vilela, seguida dos outros palestrantes. A pessoa que se sentou ao lado do Toby Jackson não parava de mexer no microfone.

d) Pronomes indefinidos. Ex.: Poucos se retiraram antes do final do evento.

Há muitas outras regras, mas guardando essas,  98% dos textos estarão corretos.

7. Uma boa notícia

Na Internet há mais frases escritas corretamente do que com erros. Então, se você está em dúvida sobre alguma contrução, regência verbal, grafia,  etc, digite as duas opções no Google e opte pela que retornar mais resultados. Um exemplo:

A exposição "aconteceu a 10 anos" ou "aconteceu há 10 anos"?

A primeira frase, escrita entre aspas no Google,  retornou em 21/01/2006 míseros 122 resultados e a segunda frase apontou 1.950.000 ocorrências. E o correto é realmente "há 10 anos atrás", como atesta a voz do povo internético.

No entanto, esse método não funciona para crase, pois o Google elimina acentos na busca. A questão "veio a baila" e "veio à baila" retorna os mesmos links. E quase todos corretos, com a crase.

8. Mais sobre pontuação: os dois pontos

Um erro muito corriqueiro é colocar ":" antes de qualquer lista. Mas esses dois pontinhos só devem ser usados quando você anuncia que vai elencar vários itens. Por exemplo, a enciclopédia chinesa do Borges:

Os animais se dividem em: a) pertencentes ao imperador; b) embalsamados; c) amestrados; d) leitões; e) sereias; f) fabulosos; g) cachorros soltos; h) incluídos nesta classificação; i) que se agitam como loucos; j) inumeráveis; k) desenhados com pincel finíssimo de pelo de camelo; l) etcétera; m) que acabam de quebrar o jarro; n) que de longe parecem moscas”.

Mas se você está escrevendo quais animais você viu numa viagem, pode abandonar os dois pontos:

"No caminho vimos animais pertencentes ao imperador, embalsamados, amestrados, leitões, sereias e vários que de longe pareciam moscas."

Outro exemplo: "A artista já expôs no Moma de NY, no DIA Art Foundation, na Pinacoteca do Estado de S. Paulo e na Praça da República."

Seria errado colocar dois pontos nessa frase.

9. Palavras e expressões inadequadas

Algumas palavras e expressões que se sumirem não farão falta ao mundo:

- a nível de: Essa eu eliminei da minha vida depois de ouvir um biólogo dizendo que ele "fazia pesquisa a nível de jacaré."

- no limite: no limite, tudo vale, então no limite não interessa em um texto.

- disponibilizar: alguém já imaginou o Deleuze disponibilizando alguma coisa? "Estar disponibilizando" é o exagero da deselegância em um texto.

- o mesmo: antes de entrar no elevador, verifique se o "mesmo" está parado nesse andar. O "mesmo" deve ser um monstro terrível, que habita os halls de elevadores.

- a problemática e a temática: Use problema e tema, que são mais elegantes. 

10. Há alguns anos...

Para indicar um tempo passado, usa-se o verbo "haver" como se usaria o verbo "fazer":

há alguns anos ele viajou/ faz alguns anos que ele viajou.

"Há alguns anos" já indica passado, então a frase "há alguns anos atrás" é deselegante por ser redundante, como um "subir prá cima".

Na indicação de um tempo futuro (ele chegará daqui a um minuto) não se usa o verbo haver e sim a preposição a.