O peso do mercado secundário no processo de formação de valores artísticos no sistema das artes – o exemplo da Sotheby’s
Antes de passarmos ao relato da primeira mesa, gostaríamos de abordar algumas questões que, do ponto de vista editorial, contextualizam esta primeira parceria entre a SP Arte e o Fórum Permanente. Entre seus objetivos estão o aumento da visibilidade do Programa Cultural da SP Arte, a sua divulgação através da plataforma Fórum Permanente, a transmissão ao vivo de sua programação, o registro, arquivo e publicação do conteúdo dos debates em vídeo, assim como a elaboração de uma reflexão crítica sobre esse conteúdo através da publicação de relatos críticos.
Para o Fórum Permanente, as discussões travadas pelo mercado e sobre o mesmo interessam pois entendemos o mercado como uma instância fundamental do sistema das artes, intrinsecamente vinculada aos processos de construção de valor, visibilidade e reconhecimento da produção contemporânea.[1]
No Brasil, a SP Arte se consolidou como evento importante do calendário das artes, com crescente projeção internacional. Do ponto de vista comercial, a feira é um sucesso e seus resultados, a cada ano, são mais significativos tanto em relação à participação de importantes galerias e colecionadores quanto em relação à repercussão alcançada e ao volume de vendas[2].
Cabe pensar, no entanto, qual a razão e a relevância de uma feira de arte bem sucedida investir em um programa cultural, com mesas de debates envolvendo especialistas do campo das artes e convidados internacionais.
O Programa Cultural da SP Arte foi instituído já na primeira edição da feira, em 2005, e, desde então, vários temas foram tratados: a relação entre arte pública e arquitetura, o mercado editorial de arte, orientações para manutenção e restauro de obras contemporâneas, o poder da imagem, a estrutura da cor, entre vários outros (a programação completa encontra-se no site: www.sp-arte.com/evento/programacaocultural)[3].
As mesas relacionadas ao mercado e ao colecionismo público e privado têm tido destaque. Assim, a programação contribui para a formação de um público específico: os novos colecionadores ou colecionadores potenciais, aqueles que, embora tenham recursos para investir, não estão familiarizados com o funcionamento do mercado e, portanto, buscam informações que possam garantir um acesso seguro ao investimento em artes[4]. Os debates também oferecem uma oportunidade singular para quem simplesmente deseja compreender melhor o opaco funcionamento do mercado e de campos a ele relacionados[5].
A consolidação de um mercado de arte e a expansão dos investimentos e do número de colecionadores fortalecem o sistema das artes como um todo e também a sua projeção internacional.
Acreditamos que a discussão sobre a formação dos valores e dos instrumentos de avaliação e negociação, tema da primeira mesa do programa cultural da SP arte de 2010, podem contribuir, de forma significativa, para esse processo.
Quanto vale? Um olhar sobre arte e design contemporâneo e latino-americano, teve a participação de Maria Bonta, Vice-presidente e diretora da Sotheby’s na América Latina, e Gabriela Palmieri, especialista em arte contemporânea e diretora de Day Sales do Departamento de Arte Contemporânea da Sotheby’s, e mediação de Ana Letícia Fialho, do Fórum Permanente. O objetivo, já indicado no título, era discutir a formação de valores dos produtos negociados pela tradicional casa de leilões com um foco particular no design do século XX e arte latino-americana e contemporânea.
Ainda antes de entrarmos na discussão de algumas questões interessantes que surgiram durante o debate, talvez seja útil apresentarmos um breve histórico da Sotheby’s, para que se entenda melhor o lugar de fala das palestrantes dessa mesa.
Sotheby’s é uma das mais importantes casas de leilões no mundo. Fundada em 1744, seu espectro de atuação é amplo, desde a venda de livros, origem de seu negócio, passando por imóveis de luxo, vinhos, armas de caça, e todas as áreas de artes visuais e decoração.
Os departamentos de arte são especializados, mas as categorias não seguem exatamente recortes da história da arte e podem ter como base tanto critérios geopolíticos e históricos quanto estéticos, ou ambos, tais como “arte contemporânea” (que para eles vai do período pós-segunda guerra até hoje), “arte latino-americana” (compreende mais de 500 anos, iniciando-se com os artistas viajantes até a produção contemporânea), “arte asiática contemporânea”, “arte britânica do século XX”, entre muitas outras[6].
As sedes principais da Sotheby’s ficam em Nova York e Londres, mas a casa de leilões tem escritórios e representantes em todos os continentes, em mais de 100 cidades. As principais vendas de arte contemporânea se fazem em Nova York (maio e novembro) e em Londres (fevereiro e junho), alguns leilões são feitos em Paris e Milão, e, às vezes, os lotes são expostos em diferentes sedes antes da realização dos mais importantes leilões. Já os leilões do Departamento de Arte Latino-americana acontecem em Nova York (maio e novembro)[7].
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São raras as ocasiões em que se discute abertamente o processo de construção de valores no mundo das artes. Geralmente, faz parte do jogo do mercado não revelar as determinantes que levam uma obra a atingir um valor X, ou um artista a se tornar um sucesso de vendas. No mercado primário, onde as obras são negociadas pela primeira vez, não se costuma falar com clareza como são definidos os preços, e em raras ocasiões se anuncia (e nunca em alta voz) o valor do resultado de uma venda[8]. Já as casas de leilões, que pertencem ao mercado secundário, ao contrário, publicam suas estimativas de preços e resultados de vendas, o que as torna um “bom parâmetro visual e público do que está acontecendo no mercado, e, portanto, um espaço interessante de aprendizado”, como apontou Gabriela Palmieri.
Maria Bonta, iniciou sua fala dirigindo-se a quem deseja começar ou aprimorar uma coleção:
“A idéia é informar vocês sobre como nós, casas de leilões, avaliamos e procedemos em relação às peças que vendemos e o que deve ser levado em consideração por quem tem interesse em comprar, assim, vocês podem ir à feira, levando essas informações consigo, e decidir o que gostariam de adquirir e avaliar o que gostariam de adquirir e, quem sabe, começar uma coleção, o que seria ótimo.”[9]
Em seguida, mostrou alguns gráficos que permitem ver a evolução dos resultados de vendas da Sotheby’s, entre 1995 e 2008, indicando um crescimento quase linear do volume de vendas, com uma queda em 2008, naturalmente, devido à crise econômica internacional. Comenta rapidamente que tanto o Departamento de Design quanto o de Arte Latino-americana têm números pouco significativos se comparados aos resultados do Departamento de Arte Contemporânea[10], tema ao qual voltaremos mais adiante.
Bonta deu exemplos de objetos de design que atingiram valores importantes, entre eles uma poltrona dos irmãos Campana, e enfatiza a qualidade estética das escolhas: “Sotheby’s busca sempre as melhores peças.” E o design que melhor funciona é o que se aproxima de uma obra de arte, e que pode funcionar como uma escultura. Afinal, os colecionadores de design são também, em grande parte, colecionadores de arte contemporânea, o que caracteriza o chamado “crossmarket”, ou seja, o mercado cruzado, prática que possibilita se trabalhar com um mesmo catálogo de clientes para diversos mercados ou nichos de mercado.
Do design, a palestrante passou então a exemplos do Departamento de Arte Latino-americana em que as peças negociadas cobrem um período de mais de 500 anos, com os artistas viajantes, passando pela arte colonial, o modernismo até a produção contemporânea.
Essa ampla abrangência do departamento indica que o mesmo trabalha tanto com temas relacionados à América Latina quanto com sua produção. A America Latina é um nicho de mercado regional e não global e, por isso, interessa a colecionadores que, de alguma forma, têm vínculos com o continente. Os destaques do departamento, em relação a valores negociados, permanecem em grande parte com os mexicanos que estão também na origem da criação do departamento, em 1977.
Em relação aos critérios de escolha e valoração das obras, Maria Bonta lembrou que, além da qualidade das peças, deve-se levar em conta a sua procedência, a sua história, o seu tamanho, a técnica, o tema e fatores mediáticos ou de moda. A consagração de Frida Kahlo, por exemplo, não pode ser compreendida sem se levar em conta a repercussão do interesse de Madonna e de Holywood pela artista[11].
Citou ainda outros exemplos de artistas contemplados pelos leilões do departamento: Lygia Clark, Hélio Oiticica, Antônio Bandeira, Rubens Gershmann,
Gego, Doris Salcedo e Sergio Camargo[12].
A primeira pergunta que surgiu no debate se refere justamente a certo incômodo de ver artistas contemporâneos como Helio Oiticica ou Doris Salcedo num leilão de arte latino-americana e não de arte contemporânea: “O que determina o up grade de um artista do Departamento de Arte Latino-americana para o Departamento de Arte Contemporânea?”
O autor da pergunta tem razão em falar de up grade, afinal, o Departamento de Arte Contemporânea é mais importante e tem muito mais prestígio que o Departamento de Arte Latino-americana.
Embora não assumida pela Sotheby’s como tal, a hierarquia existe e é definida basicamente pelo volume de vendas e valores negociados. Enquanto 1 milhão de dólares é um valor extraordinário para o Departamento de Arte Latino-americana, ele é quase irrisório para o Departamento de Arte Contemporânea em que recordes para uma única obra chegam a mais de 70 milhões de dólares. Ainda que ambos os departamentos atuem no plano internacional, o mercado de arte contemporânea é globalizado e lida com nomes reconhecidos globalmente que atingem facilmente valores acima de oito dígitos, enquanto o Departamento de Arte Latino-americana, apesar de internacional, lida, em grande parte, com artistas que são frequentemente conhecidos apenas por especialistas e colecionadores que têm um interesse particular pela produção do continente latino-americano[13].
Gabriela Palmieri tem outro ponto de vista: “temos cuidado e evitamos dizer que nossas escolhas têm por base um perfil estético ou uma base estritamente regional, trata-se de arte, e não se trata de onde vem, ou quem é quem, não consideramos nacionalidades, só pensamos sobre qual o contexto de venda faz mais sentido.” De fato, para a Sotheby’s, a questão é simples: um artista não é encaminhado, a priori, para um departamento ou outro, muitos artistas participam de leilões em diferentes departamentos, como Vik Muniz (fotografia, arte contemporânea, arte latino-americana). O que orienta essa escolha é a definição de qual contexto é o mais favorável para que se alcance o melhor preço. No entanto, é preciso observar que os melhores preços são alcançados, via de regra, pelos artistas negociados no Departamento de Arte Contemporânea.
Palmieri trouxe exemplos de destaques nas vendas contemporâneas:
A obra White Center (Yellow, Pink and Lavender on Rose), de Mark Rothko, que foi adquirido por David Rockfeller em 1960, alcançou 72.840.000 dólares, recorde do artista e para uma obra contemporânea em 2007. Tal exemplo mostra o impacto que a procedência de uma obra pode ter sobre o seu valor de mercado. Segundo a Sotheby’s, o fato de ter pertencido a Rockefeller impulsionou a disputa pela obra[14].
Outro exemplo dado por Palmieri foi o de Beatriz Milhazes, que alcançou um recorde de venda para um artista brasileiro contemporâneo em leilão no Day Sales do Departamento de Arte Contemporânea realizado em Nova York em 15 de maio de 2008: 900.000 dólares[15]. O proprietário teria contatado a Sotheby’s com o objetivo de negociar a obra de forma privada, por cerca de 300 mil dólares, e foi convencido pelo Departamento de Arte Contemporânea a colocar a obra em leilão com destaque no catálogo. 17 compradores de diferentes partes do mundo disputaram a obra, que foi comprada por um colecionador da Argentina. Atrás dele estavam um colecionador alemão e outro americano, o que deixa em evidência o caráter de fato globalizado desse tipo de mercado.
Outro exemplo emblemático dado por Palmieri foi o leilão organizado por Damien Hirst em parceria com a Sotheby’s, um caso singular em que a casa de leilões funciona como uma galeria/agente de vendas do mercado primário e coloca o artista em contato direto com o mercado[16].
Ela retomou, ao final, as regras básicas que um colecionador deve considerar para decidir o que e como colecionar: qualidade, raridade, proveniência, histórico da obra e currículo do artista. Ademais, falou da importância, para o colecionador, de buscar formas de se familiarizar com o mercado (freqüentar museus, feiras e galerias, acompanhar publicações especializadas, fazer pesquisa de preços) e também considerar a importância de estabelecer os seus próprios parâmetros: “o colecionador deve ter em mente alguns critérios pessoais: se tem preferência por aspectos estéticos ou conceituais, por obras bidimensionais ou tridimensionais, por um determinado movimento ou período histórico” e assim por diante. Sugeriu ainda que se busque orientação profissional: art advisors – consultores que podem orientar e pesquisar obras – e as próprias casas de leilões: “nós somos especialistas, podemos orientar e aconselhar”. Finalizou indicando os Day Sales do Departamento de Arte Contemporânea da Sotheby’s como um ótimo lugar para quem deseja iniciar-se no mercado: “Day Sales são ótimas oportunidades, neles encontram-se artistas jovens e em meio de carreira, trabalhamos com várias faixas de preços, e há uma grande diversidade de obras, negociando-se, em média, 300 lotes por leilão.”
Ao que tudo indica, o interesse de casas de leilões como a Sotheby’s pela América Latina e pelo Brasil, em particular, não está apenas focado na busca de mercadorias a serem negociadas, mas também na possibilidade de ampliar o seu catálogo de clientes.
Para Hans Belting, as casas de leilões, com suas novas filiais e escritórios, se tornaram o mais importante agente da virada global, atraindo uma clientela de países sem uma tradição em colecionismo. Por se tratar de vendas públicas, atraem investidores novos sem experiência no campo das artes, permitindo, assim, uma verdadeira globalização da arte através do mercado.[17]
Sem dúvida, as casas de leilões são um agente importante do mercado, suas operações são altamente midiatizadas, e seus resultados têm um impacto importante na definição de valores e tendências. Elas podem funcionar como um termômetro, indicando como está o mercado em um determinado momento. Mas o mercado secundário, ao qual pertencem as casas de leilões, representa apenas uma pequena fatia do mercado, havendo uma diversidade e um volume de operações muito maiores fora dele.
Como esclareceu Maria Ponza a um artista que perguntou como fazer para um dia participar de leilões: “para que uma obra entre em leilão, por regra, é preciso que se tenha certeza de que duas ou três pessoas estarão dispostas a disputá-la. Um objeto que interessará apenas um colecionador não entra em leilão, é negociado de outra forma. O que entra em leilão é aquilo que é capaz de atrair uma larga audiência, trata-se de um mercado de massa. Os leilões não são o lugar adequado para artistas iniciantes, as casas de leilões observam as exposições, as feiras, o que mostram as galerias, um leilão traz obras que já foram vistas ou que pertenceram a alguma coleção de renome.” Ou seja, encontram-se nos leilões mais respeitados obras de artistas que gozam de reconhecimento e que têm certo valor garantido de mercado.
Para concluir, poderíamos resgatar uma provocação de Thomas McEvely, de 1991, e ainda extremamente atual, sobretudo se pensarmos em fenômenos como a parceria firmada entre Damien Hirst e Sotheby’s em 2008:
“The problem is no longer that art works will end up as commodities, but that they will start out as such”[18].
[1] O Fórum Permanente fez a cobertura de parte da programação da ARCO 2007, dedicada ao Brasil; também, abordou o tema em outras ocasiões.
[2] Em sua sexta edição, a SP Arte ocupou o dobro do espaço de sua primeira edição, teve a participação de 80 galerias, a maior participação de galerias internacionais desde sua criação, e um resultado de vendas que supera em 30% a edição anterior, chegando a mais de 15 milhões de dólares. Cf. “SP Art: Balanço”, publicado em 10 de maio de 2010, em Formas & Meios, http://formasemeios.blogs.sapo.pt/846743.html, último acesso em 20/06/2010.
Um obstáculo ao crescimento do mercado brasileiro, no entanto, é a inexistência de um regime fiscal favorável, como bem observou Maria Ponza. De fato, o Brasil não oferece nenhum befefício para quem investe em arte, e existem muitos entraves para a exportação e importação de obras de arte, ao contrário de países como Inglaterra e Suíça, que têm mercados extremamente fortes e muitos benéficos para os investidores.
[3] Outras feiras internacionais importantes, como Frieze, Basel e ARCO, também mantêm um extenso programa de debates e atividades culturais.
[4] Em muitos casos, buscam também adquirir o que Pierre Bourdieu chamou de capital simbólico, ou seja, o domínio de certos códigos sociais necessários para fazer parte de um jogo em que as regras raramente são enunciadas claramente e, por isso mesmo, conferem certa distinção a quem as conhece.
[5] Os temas das outras mesas da programação deste ano também dialogaram, ainda que indiretamente, com o mercado: as práticas curatoriais desenvolvidas fora do ambiente institucional com a participação de Jacob Fabricius, curador da Konsthall de Malmö, e mediação de Martin Grossamann foram tema da segunda mesa; as políticas de investimento em arte latino-americana pelo MUSAC foi o tema do segundo dia da programação; e Adriana Varejão, uma das artistas contemporâneas que mais se destacam no mercado, encerrou a programação.
[6] Algumas categorias surgem e desaparecem segundo tendências da moda e do mercado, outras permanecem estáveis por muitas décadas, embora parte das obras e de artistas que, em determinado momento, estiveram na moda e atingiram altos valores possam cair no esquecimento décadas mais tarde.
[7] Os catálogos dos leilões, assim como os resultados de vendas, podem ser consultados no site da Sotheby’s: www.sothebys.com
[8] Existe também certa resistência, da parte dos agentes de outras instâncias do sistema das artes, em discutir valores de mercado como se o valor comercial pudesse “contaminar” ou desvalorizar o seu valor simbólico. No entanto, o mercado participa, cada vez mais, na formação dos valores simbólicos da obra, e as esferas crítico-histórica e institucional participam também da construção dos valores de mercado. Por isso, acreditamos ser importante se discutir o processo de formação desses valores pelos diversos agentes do sistema das artes.
[9] Com essa fala, Bonta deixa claro que tal público-alvo interessa não só à feira, mas também à própria Sotheby’s, o que também será reforçado por Gabriela Palmieri mais tarde.
[10] De fato, o resultado do Leilão do Departamento de Arte Contemporânea que aconteceu em Londres em 28 e 29 de julho de 2010 movimentou 53.254.250 GP (ou 77.575.465 dólares). Já o último leilão do Departamento de Arte Latino-americana, realizado em Nova York em 27 e 28 de maio de 2010, teve um resultado de 16.777.050 dólares. Os resultados dos leilões podem ser consultados no site: www.sothebys.com
[11] As casas de leilões Sotheby’s e Christie’s tiveram um papel fundamental na valorização de Frida Kahlo cujos preços também se tornaram notícia e alavancaram o interesse pela artista para além do campo das artes.
[12] O recorde do artista num leilão internacional foi numa venda do Departamento de Arte Latino-americana da Sotheby’s em 18 de novembro de 2009: 1.350.000 dólares.
[13] Esta talvez seja a grande diferença que separa Helio Oiticica e Andy Wahrol: o preço. E preço tem a ver com reconhecimento e visibilidade. Warhol sabia disso, Damien Hirst sabe disso, e, não por acaso, fechou um dos mais incríveis negócios do mercado das artes no dia mesmo em que a crise econômica mundial era declarada com a falência dos Lehman Brothers.
[14] Do ponto de vista da sociologia da arte, pode-se compreender tal fato como uma tentativa de adquirir, com a obra, o capital social, a distinção de que gozava a família Rockefeller. Sobre o tema, duas referências importantes: Pierre Bourdieu, A distinção: crítica social do julgamento. São
Paulo: Edusp; Porto Alegre, RS: Zouk, 2007; e José Carlos Durand, Arte, privilégio e distinção. Artesplásticas, arquitetura e classedirigente no Brasil, 1855/1985. São Paulo, Perspectiva/Edusp, 1989.
[15] Valor de venda que, com o acréscimo da comissão da casa de leilões, também paga pelo comprador, chega a mais de 1 milhão de dólares, cifra mencionada amplamente na mídia brasileira, devido a seu ineditismo. Para uma artista contemporânea brasileira, de fato, tal valor marca um recorde, no entanto, para o mercado de arte contemporânea global, tal valor pode ser considerado pouco significante.
[16] Iniciativa de sucesso e marco da história recente do mercado de arte contemporânea, Hirst vendeu em dois dias (15 e 16 d setembro de 2008, em Londres) o equivalente a 111.464.800 GBP (162.370.774.16 dólares, de acordo com o conversor do site da Sotheby’s). Naquele mesmo dia, foi anunciada a falência da Lehmann Brothers, e deu-se início a mais recente crise econômica mundial. Conferir sobre o tema: Colin Gleadell, “Damien Hirst Skips the Midleman”, The Wall Street Journal, Arts & Enterteinment, September 17, 2008: http://online.wsj.com/article/NA_WSJ_PUB:SB122161315980646011.html, último acesso em 20/06/2010.
[17] Hans Belting, “Contemporary Art as Global Art”, in: Hans Belting e Andrea Buddensieg (org.), The Global Art World, Ostfildern, Hatje Cantz Verlag, 2009, p. 63.
[18] Thomas McEvelly, Art and Discontent: Theory at the Millenium, citado por Hans Belting, in: op. cit., p.65. Tradução livre: “O problema não é mais que as obras de arte terminem como commodities, e sim que elas comecem como tal.”